O homem da caverna olhou começou a “olhar para o céu, presenciar o desabrochar de uma rosa, sentir a grandeza das águas rolando pelas cachoeiras e ouvir o canto dos pássaros” e pensou: Só pode ser alguém muito poderoso e sábio quem pôs tantas lâmpadas lá no céu, faz as rosas desabrocharem, despeja tanta água aqui para nós e faz com que os pássaros cantem e movimentem-se no ar.
“Quando, em épocas remotas, o homem criou a crença de ter uma alma imaterial e independente do corpo, estava apenas tentando explicar o sonho. Não perceberam os nossos ancestrais primevos que, se os sonhos fossem atos desses supostos espíritos, cada vez que alguém sonhasse com uma pessoa essa teria inevitavelmente o mesmo sonho, o que não ocorre na realidade. Se os antigos interpretavam os trovões e os ecos das próprias vozes como as vozes dos deuses, isso era apenas o desconhecimento dos fenômenos naturais. Os loucos, pessoas com deficiência mental, eram considerados endomoninhados (possuídos pelos demônios), por falta de melhor compreensão do complexo mecanismo cerebral.
Hoje, que todos esses mistérios foram desfeitos, argumenta-se, com suporte na tese de Santo Agostinho, que todas essas coisas complexas da natureza não podem ter vindo à existência por acaso, sendo isso prova suficiente de que haja um criador supremo. Esse argumento me foi apresentado quando eu ainda era criança. No entanto, o meu cérebro infantil foi capaz de entender a inutilidade da premissa. Raciocinei: De onde não pode provir o simples poderia surgir o complexo? Se do acaso não pode surgir a criatura, poderia dele surgir o criador supremo? Se todas essas coisas só podem ter sido feitas por um poderoso e sábio criador, esse criador deve ter sido criado por outro superior a ele. Conseqüentemente, o criador do criador teria que ter seu criador também, e esse o seu, em uma corrente infinita. Se, ao contrário, pode existir um “criador incriado”, por que coisas simples da natureza não poderiam existir sem um ente criador?” (João de Freitas).
Mas, apesar dos avanços científicos capazes de explicar muitos dos fenômenos antes atribuídos a deuses, “(o poder do pensamento primitivo” é grande, perpetuando-se indefinidamente, ultrapassando as várias idades da humanidade, e aquilo que começou com a observação de fenômenos da natureza permanece até os dias de hoje. Há uma pequena diferença: no mundo moderno, o que era um grupo de deuses autores dos fenônomenos da natureza transformou-se em um deus único, onipotente, onisciente, onipresente, etc. |