Pessoas me perguntam, constantemente, como eu consigo ser tão versátil quando escrevo... Se eu realmente sou bem-casada, feliz etc.
Isto porque demonstro muito sentimento e romantismo, nos poemas de amor e uma sensualidade exacerbada nos eróticos...
Eu tenho de achar graça e tento explicar a essas pessoas, falando do "eu-lírico" na poesia e que na maioria das vezes, os versos que escrevo nada retratam de mim, apenas vêm do meu sentimento em relação à vida, pessoas e coisas.
O poeta é um universo fervilhante de emoções. E me parece que não só as dele, mas consegue captar até a paixão das pedras, se é que elas a têm... É, também, um mensageiro de sentires alheios. E isto se percebe logo na identificação e afinidade que demonstram os leitores quando lêem o que escreve.
Mas, para melhor ilustrar este assunto, tão curioso, vou me valer de um trecho da carta do escritor e "sensível poeta" Fernando Tanajura Menezes. Carta que ele escreveu para Salete Olímpya... e citou os versos abaixo. Esse trechinho demonstra muito bem o que eu venho tentando explicar:
O POETA está além das aparências ou de julgamentos vis, de reles e preconceituosos julgadores...
Milene Arder
"No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo."
(Manoel de Barros - O menino que carregava água na peneira)