A reforma da Previdência. Haverá incluídos?
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
A reforma da Previdência já foi debatida o suficiente para termos nossas opiniões sobre os pontos específicos e polêmicos. E não quero entrar no mérito se a reforma é boa ou poderia ser melhor.
Podemos discordar de dados técnicos, percentuais e até concluirmos que será necessária uma outra reforma em cinco ou 10 anos.
Nesse momento, após a votação vitoriosa na Câmara, gostaria de fazer uma análise política.
Entendo que uma avaliação política o tema adquiri mais consistência.
Ninguém contesta que a reforma é necessária e premente. E, certamente, feita com muita ousadia e sensatez para enfrentar as corporações e manifestações públicas dos envolvidos diretamente em seus direitos ou privilégios adquiridos.
Entretanto, devemos salientar que em quatro meses o governo elaborou, propôs, articulou e negociou essa reforma. Ainda tem o segundo turno na Câmara e mais o Senado, mas entenda-se que o primeiro momento há uma vitória que contou com o apoio e a maturidade das forças políticas hegemônicas na Câmara, por conseqüência um entendimento que essa reforma é fundamental e necessária.
Até o presente momento credito os resultados dessa votação ao ato de fazer política com ousadia, credibilidade e seriedade. Um crédito que deve ser dado ao Parlamento como um todo. Percebemos que os extremos estiveram juntos, a extrema esquerda, os rebeldes do PT e o PSTU – com as bandeiras nos atos públicos - e extrema direita capitaneada por Caiado e cia.
Incrivelmente, na votação, esses pólos se atraíram.
A base do governo e uma parcela considerável da oposição, garantiram a aprovação, votando a favor.
Qualquer pessoa poderá fazer a crítica. Cada um com suas análises favoráveis ou contrárias, mas devemos convir que essa reforma inclui no sistema previdenciário mais de 40 milhões de trabalhadores da economia informal. Bastando, para isso, uma contribuição de R$ 20,00 mensais num período de 15 anos.
Nesse ponto percebemos que há um forte viés de inclusão social. Na minha opinião, esse é o item fundamental da reforma da previdência.
Todos temos o direito de protestar, exigir o que achamos que é o nosso direito. E é um jogo de forças que requer muita negociação e pressão de parte a parte.
E política a gente faz com exaustivas e intermináveis negociações. Cabe lembrar que para haver acordo, ambos os lados devem ceder. Por isso entendo e compreendo os pontos que o governo cedeu.
Toda vez que aflora essa complexidade política atual do Brasil e emerge nas telas da TV quem está no comando desse momento histórico, lembro-me da campanha eleitoral.
Uma das maiores críticas ao então candidato Lula, era por ter apenas o 5o ano primário, sem comentar os mais variados tipos de preconceitos. Pois é. Foi um “semi-analfabeto” que teve a coragem de fazer essa reforma, e fará outras, tantas quantas forem necessárias para o bem do povo e negociadas à exaustão. Por isso não será do agrado de algumas parcelas da sociedade, possivelmente nem ao meu agrado, visto que, como muitos brasileiros, também terei que trabalhar alguns anos a mais.
Cada vez eu me convenço mais que para governar um país uma pessoa não precisa, necessariamente, ser um doutor ou ser um poliglota. Basta ter a sensibilidade política e conhecer os anseios do povo.
Por fim, um doutor “honoris causa” tentou fazer essa reforma e não conseguiu. Um torneiro-mecânico foi lá, e está fazendo. Com todos os acertos e contradições. Afinal de contas, só erra quem faz.
Em política a pós-graduação é obtida na escola da vida.
Esse texto foi elaborado, para discutir itens da reforma e, também, com o intuito de despir os preconceitos contra as pessoas. A capacidade, honestidade, seriedade e espírito solidário não está em um diploma na parede do corredor de nossas residências.
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