ESTUDO DESMENTE INFLUÊNCIA DOS ASTROS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE
Autor da pesquisa é ex-astrólogo, o que fez as reações serem ainda mais acaloradas
Os físicos garantem que o obstetra exerce maior força gravitacional sobre o recém-nascido do que qualquer planeta ou estrela. Na verdade, um dos prazeres da astrologia é deixar cientistas à beira de um ataque de nervos.
Na semana passada, os arquiinimigos da astrologia ficaram exultantes com a divulgação da mais recente análise estatística a descartar qualquer relação entre horário de nascimento e características da personalidade.
Pior, o estudo veio assinado por um ex-astrólogo, Geoffrey Dean, de Perth, na Austrália. Dean - que se diz a figura mais odiada da astrologia, por ser considerado um vira-casaca - e Ivan Kelly, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, acompanharam 2 mil pessoas, nascidas no mesmo dia e hora, ao longo de quatro décadas.
O estudo começou em Londres, com bebês nascidos em março de 1958, que foram monitorados a intervalos regulares. Os pesquisadores avaliaram mais de cem características, entre elas QI, escolha profissional, estado civil, níveis de ansiedade, sociabilidade e agressividade, habilidades esportivas, artísticas e matemáticas. Os resultados foram "uniformemente negativos", segundo trabalho publicado no Journal of Consciousness Studies.
Contra-ataque - As reações não tardaram. O presidente da Associação Astrológica britânica, Roy Gillett, acusou os autores de tentar desacreditar a astrologia. Ontem, no jornal The Guardian, o astrólogo Neil Spencer suou para encontrar uma ou duas pesquisas em que os colegas de profissão se saíram melhor que estatísticos e outros cientistas.
"Como astrólogo, poderia questionar a metodologia usada pela dupla. Até que ponto, por exemplo, chegaram as coincidências de horário de nascimento dessas crianças? Mas nem preciso. A astrologia e a estatística já se confrontaram antes e geralmente os astros levam a pior, mas nem sempre.", escreveu. "Em 1959, o psicólogo americano Vernon Clark fez 50 astrólogos tentarem acertar biografias e horóscopos e diferenciar falsos mapas astrais do verdadeiros, os mapas de pessoas com alto QI e os de vítimas de paralisia cerebral. Eles tiveram altos índices de sucesso."
Mas o próprio Spencer reconhece que as astrologia não é uma ciência, "mas uma linguagem simbólica". "Seus praticantes, de Pitágoras a Kepler, de Jung a Yeats, estão em busca de significados. A astrologia não é coisa para engenheiros e cientistas, que deviam deixá-la para os filósofos, poetas e amantes", argumentou.
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Matéria publicada no jornal O ESTADO DE S. PAULO, www.estadao.com.br, quarta-feira, 20/08/2003, página A10.