Em 1848, as irmãs Margaret e Kate Fox começaram a ouvir pancadas e ruídos vindos do chão e das paredes de sua casa em Hydesville, no Estado de Nova York. Intrigadas, estabeleceram um código com base no número de batidas e receberam a informação de que quem produzia os barulhos era o espírito de um homem assassinado e enterrado debaixo da casa. O caso virou tema de debates e investigações infindáveis. As irmãs Fox percorreram vários países mostrando seu aparente poder de comunicação com os espíritos. Na mesma época, na Europa, o fenômeno das mesas girantes virou uma diversão da burguesia. Ao colocar as mãos sobre a mesa, ela se mexia. Devido à manifestação de espíritos, supunha-se. Depois, desenvolveu-se um método, com as letras do alfabeto, para receber "respostas" das tais entidades.
O INÍCIO: mesas girantes e pancadas na parede.
Os cultos esotéricos pululavam num ambiente contraditório. O cientificismo era o pano de fundo do pensamento da época. O evolucionismo e o positivismo afloravam. Ao mesmo tempo, a paixão pelo sobrenatural se propagava. Das colônias orientais da França e Inglaterra chegavam conceitos como corpo astral, energia vital, reencarnação e carma. Em 1875, a russa Helena Blavatsky fundou em Nova York a Sociedade Teosófica, que misturava elementos do ocultismo com tradições indianas. O pedagogo francês Hippolyte Rivail – Allan Kardec, acreditava ele, era o nome que teve em outra encarnação, como druida ou sacerdote celta – tentou unir os dois extremos: deu uma roupagem científica a esse furor esotérico e criou o espiritismo, em 1857.
Na França, a doutrina feneceu. No Brasil, onde o catolicismo dava destaque ao inexplicável e as culturas indígena e africana abriam caminho às manifestações de espíritos, o kardecismo vicejou. "Aqui se valorizou o lado religioso de moralização, com ênfase na caridade e no serviço dos passes ditos terapêuticos", explica o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP. Ajudaram a difundir o espiritismo médiuns famosos, como José Arigó, que realizava cirurgias sob orientação do espírito do doutor Fritz, e principalmente Chico Xavier. Hoje um discípulo seu, Divaldo Pereira Franco, é o líder mais popular. E justamente na Bahia dos orixás. Já psicografou 500 espíritos e publicou 125 livros.
Pereira Franco: Na terra dos orixás, o baiano é o novo líder do espiritismo: 125 livros e 7.000 palestras.
Anos depois de causar furor as irmãs Fox se desmentiram. Disseram que os espíritos eram invenção delas. No Brasil, ninguém ligou.”
-------------------------------------------------
Parte da lúcida reportagem “À nossa moda”, VEJA (www.veja.com.br), Edição 1659, 26/07/2000, páginas 78/82.