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Artigos-->A Crise Financeira Global em dois passos -- 29/08/2003 - 00:25 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os anos 90 representaram “marco transicional” para as Relações Internacionais. Encerrou-se a Guerra Fria, ocorreu o início da chamada “Nova Ordem Mundial” (cujo caráter é até hoje contestável). Assistimos ao “fim das ideologias” (o que quer que isso signifique). Para alguns, tanto podemos caracterizar os anos 90 como “a Era dos Direitos” quanto “a Era do Neoliberalismo”. Não entrando no mérito dessas afirmações díspares, afirmo com alguma certeza que poderíamos também denominar os anos 90 como “Era das Crises Financeiras Globais”. Tratarei, nas linhas que se sequem, de analisar os impactos das referidas crises nas políticas domésticas dos países por elas afetados diretamente, buscando discernir um “padrão comum” de ação que poderíamos dizer “global”.



Extenso rol de crises financeiras acompanhou o desenrolar dos anos 90. Podemos iniciar nossa trajetória em 1994, no México, pouco após a entrada desse país no NAFTA (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), quando seguidos “ataques especulativos” colimaram com a desvalorização súbita de 30% do peso mexicano e com a já afamada “fuga de divisas”. O impacto da “crise Tequila” (assim ela foi apelidada) estendeu-se por toda a América Latina. Passemos, em seguida, à Rússia, que declararia moratória de sua dívida externa em 1997. Em seguida, 1998, cheguemos à Ásia, onde seriam colocados de joelhos os outrora invejados “Tigres Asiáticos” (pela ordem, Tailândia, Coréia do Sul, Malásia, Indonésia), afetados pela estagnação econômica de seu “mecenas” (o Japão), afetados pela fragilidade de suas instituições financeiras (falidas). Mais adiante...Chega a vez do Brasil. 1999 assistiu à maxi-desvalorização do Real, que tantas convulsões provocou naquelas esquecíveis semanas de Fevereiro e Março daquele ano. Novamente, impactos continentais não-desprezíveis foram percebidos.



O que podemos apreender dessa seqüência de eventos? Que os mesmos compartilhavam a mesma natureza, certamente. Em todos as mencionadas crises, havia um “foco inicial” de desconfiança acerca da “saúde econômica” do país-alvo (via de regra, subida nos índices da Moody`s ou da Standart & Poors ou relatórios de instituições financeiras internacionais). Investidores e especuladores (muitas vezes ambos coincidiam), assim, retiravam seus investimentos do país-alvo ou transferiam-nos para ativos em dólar, acelerando a desvalorização da moeda local. No afã de impedir esta última, o país-alvo torrava suas (em geral insuficientes) reservas em dólar, tornando-se refém de uma “espiral de desconfiança”. Quanto mais o país-alvo intervinha tentando conter a queda das cotações, mais e mais recursos eram retirados do país e mais fragilizado este ficava perante a especulação. Culminava o processo com uma maxi-desvalorização, acompanhada ou não por moratória e certamente acompanhada por um “pacote emergencial” financeiro, do FMI ou mesmo dos Estados Unidos (caso da Crise Tequila). Algo mais?



Avalio que os desdobramentos políticos das Crises Financeiras, nas arenas domésticas (dos países que adotaram a Democracia, bem dito), ocorreram em duas etapas (podendo corresponder a “dois passos” – terminologia que adotarei daqui por diante). Inicialmente, os governos já instalados no poder, confrontando diretamente essas crises de tamanha gravidade, tiveram sua legitimidade reforçada diante da população – eles foram considerados os potenciais “salvadores” da nação ou, no mínimo, os agentes políticos capazes de minimizar os custos das crises. Tal reforço de legitimidade se traduziu em permanência no poder – tais governos, via de regra, venceram as eleições imediatamente posteriores às crises. A tal fato corresponde o “primeiro passo”. Exemplos: vitória de Zedillo no México em 1994, de Iéltsin em 1998 na Rússia, de Menem em 1995 na Argentina vitimada pela “Crise Tequila”, de Fernando Henrique Cardoso no Brasil pouco antes da Crise brasileira estourar, já vivendo os desdobramentos das crises Russa e Asiática (dizia-se que o Brasil era “a bola da vez”).



E quanto ao “segundo passo”? Este é caracterizado pela mudança de governo verificada nos países alvo das Crises Financeiras Globais nas segundas eleições realizadas após o instaurar das citadas crises. Tivemos a vitória inédita de um candidato não-pertencente ao PRI (Partido Revolucionário Institucional) no México, o conservador Vicente Fox. No Brasil, tivemos a vitória, igualmente inédita, do Partido dos Trabalhadores, com Luiz Inácio Lula da Silva. Na Rússia, Iéltsin encerrou seu mandato meses antes do seu expirar e entronizou no poder Vladimir Pútin, posteriormente eleito Presidente. Na Argentina, a União Cívica Radical (UCR) vendeu o Partido Justicialista (Peronista) com Vicente de La Rúa eleito presidente. Qual seria o “móvel” motivador das populações desses países para concretizar tal cenário?



Imagino que este seja similar ao que motivou os acontecimentos na Grã-Bretanha em 1946. O país, recém-vitorioso da Segunda Guerra Mundial, ainda contabilizava suas enormes perdas humanas e materiais. Nesse contexto ocorre a surpreendente vitória dos Trabalhistas, com Attlee, sobre os Conservadores de Churchill (o “arquiteto da vitória”, popularíssimo em seus país e no mundo). O slogan dos Trabalhistas? “Viva seus sonhos, construa seu futuro!”. Os britânicos, ainda que gratos pela vitória contra o Eixo e sabedores da necessidade dos sacrifícios (imensos) que lhes foram impostos pelo esforço de guerra, queriam apagar as cicatrizes da guerra, deixar esse “trauma” enterrado no passado e viver “um novo tempo”, descolado dos horrores e sacrifícios recém-passados. Isso se traduziu num novo governo. Novas caras. O que menos importava era saber “quem”, frente à mensagem e ao imaginário da “mudança”, da realização concreta do que, para toda uma geração, passara ao campo da irrealizável utopia (isso podia incluir os ganhos materiais mais modestos, pelo contexto da época – a renda per capita britânica decresceu 65% durante os anos do conflito). Tal analogia encontra admirável similaridade com os acontecimentos que vivemos no Brasil da atualidade. Que os mexicanos viveram em 2000, juntamente com os argentinos. Era consenso quase geral – tratava-se da “hora da mudança”.



Preocupa-me o fato de que, no caso argentino, a mudança não teve qualquer conteúdo, resultando daí uma crise político-econômica sem precedentes no país (quinhão merecido desse resultado cabe, igualmente, aos organismos financeiros internacionais). O governo De La Rúa duraria, assim, menos de metade do seu mandato, com o poder retornando aos Peronistas. Houve mudanças no México (um governo de “técnicos”, cujo ministério foi formado lançando-se mão do trabalho de “headhunters”!), na Rússia (Putin reverteu a tendência liberalizante de Iéltsin e endureceu a ação no campo externo, com resultados aparentemente positivos). Acontecimentos no plano externo favoreceram o sucesso (até onde podemos avaliar) de mexicanos (fortalecimento do NAFTA e pujança da economia dos Estados Unidos) e Rússia (11 de Setembro).



Não podendo controlar (somente influenciar, num grau limitado) os acontecimentos no plano externo, esperemos que haja mudanças reais no Brasil. Novamente remontando aos britânicos, no caso deles a mudança consistiu no Estado do Bem Estar Social, uma das mais admiráveis obras de engenharia política de todos os tempos e cujos resultados positivos foram memoráveis. Vencer o combate à ancestral desigualdade social no Brasil seria acontecimento de mesma envergadura. Argentina ou Grã-Bretanha? A mudança já veio. Façamos com que ela legue frutos positivos, enfim!

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