Das ondas da web às páginas de um livro, um mundo de novos autores em gestação
05/09/2003 - 02:42
Levar para o livro impresso pessoas que desenvolvem uma carreira literária através da internet. Esse é o propósito do editor sorocabano Douglas Lara, que idealizou a antologia "Dez Autores da Web", em fase de produção, e que tem despertado o interesse de dezenas de autores. Desde que divulgou seu projeto, Douglas não parou de receber e-mails e telefonemas, inclusive de outros Estados brasileiros.
Por enquanto, ele analisa os textos já encaminhados e estuda idéias para incrementar a antologia (uma das possibilidade é fazer uma edição bilíngüe, em português e espanhol. Dessa forma, acredita, o livro terá uma visibilidade muito maior). Nesta entrevista, o idealizador de "Dez Autores da Web" fala sobre a literatura produzida na internet e a repercussão que seu projeto vem alcançando.
Qual é a sua ligação profissional, afetiva e literária com a internet?
Douglas Lara - Meu trabalho é divulgar escritores e livros pela internet. Minha ligação afetiva é o resultado dos contatos que são feitos para ver como divulgar e os possíveis obstáculos que vão surgindo, que muitas vezes fogem do trabalho de divulgação. Apenas aqueles que militam na net podem sentir o relacionamento que surge destes contatos.
Como está hoje a produção literária brasileira na internet?
DL - Cada dia melhor em termos quantitativos e qualitativos. Calcula-se hoje que três mil poetas brasileiros já expõem seus trabalhos na web. Não posso imaginar nenhuma pessoa com pretensões literárias ficar fora da internet. E isso deverá aumentar ainda mais.
Existe diferença entre a literatura feita para internet e a literatura impressa?
DL - As pessoas que aprenderam tudo "pré" internet têm uma dificuldade natural de ler e sentir um texto olhando num frio visor eletrônico. Os mais jovens conseguem, enquanto outros necessitam do toque dos dedos com o papel impresso.
Como surgiu a idéia de reunir autores da web num livro escrito?
DL - Eu pretendo registrar textos para conhecimento de amigos e bibliotecas. Temos que ter em conta que um pensamento deva ser levado para que todos saibam o que outros pensam. Parte de fornecer material para pesquisa e discussão. A tribuna do escritor é aquilo que ele escreve, e a palavra deve ser levada de todas as formas e meios.
Sonho no papel
Qual foi a repercussão entre os escritores?
DL - Muito boa, excedeu as expectativas. Quem escreve é muito ativo e participante em tudo. Sua arma ou tribuna são os textos que escreve.
Como está o andamento do projeto, hoje?
DL - O número de dez escritores está perto de ser atingido. A qualidade literária dos que já aderiram à antologia é excelente.
Um projeto como este exige uma grande estrutura profissional?
DL - Sim, pois você deve conhecer um bom número de participantes com vistas a dar respeitabilidade ao livro. E tempo para descobrir novos talentos.
Muitos sonham em se tornarem escritores profissionais. Qual o caminho para chegar a isso?
DL - Para tornar-se um escritor, uma pessoa deve dedicar tempo quase integral e trabalhar de forma sistemática e obstinada. Um livro sério deve demorar de dois a três anos para ser escrito. Outro ano de espera para decisão da editora. Se for aceito, vêm os contratos, comprometimentos como exclusividade, de cinco a nove anos após o livro estar nas livrarias. Um ano acompanhando as vendas de seu primeiro livro e pensando no segundo. O escritor, durante este período que atua como vendedor de um único livro, fica um pouco desapontado e com vontade de fazer o que gosta: escrever. Aí então ela ou ele percebe que se passaram dez anos e está no terceiro livro. Está também cheio de compromissos de exclusividade, só que está fazendo o que mais gosta, que é colocar suas idéias, pensamentos e sonho no papel. (Colaboração do jornalista José Carlos Fineis)