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Artigos-->A EUROPA QUE DIZ "NÃO!" -- 06/09/2003 - 00:13 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A “recuada estratégica rumo às instituições” de George W. Bush teve o primeiro revés no dia de hoje. Previsivelmente, alguns dos estados europeus mais importantes no Conselho de Segurança da ONU (França, possuidora do “poder de veto” e Alemanha) rejeitaram proposta norte-americana de constituição de uma “força de paz internacional” para pacificar o Iraque pós-Saddam, antes mesmo que esta fosse colocada em votação.



Bastante cientes dos intentos da Casa Branca, os europeus contradizem frontalmente afirmação de Robert Kagan, feita no quimérico artigo “Power And Weakness”. No citado, Kagan afirma que norte-americanos e europeus não apenas diferem nas suas visões do “poder”, como sequer “vivem no mesmo mundo”. Os europeus teriam optado por construir “castelos de areia” fundados na Paz kantiana, afastando-se da Realpolitik, enquanto que os norte-americanos, menos ingênuos, teriam optado pela transposição do “Realismo ofensivo” de Mearsheimer para o plano internacional, agindo em defesa de suas “posições de poder” e da manutenção do próprio sistema, abandonado pelos “fleumáticos” europeus.



Nada mais banalmente simplista, sensacionalista e despido de verossimilhança do que tal análise. Os europeus não só estão “a par” dos embates pelo poder no plano global, como o fazem de um ponto de vista singular. Eles já estiveram “no topo”. A Europa já foi o “centro” do mundo, chegando a retalhar continentes inteiros em seus jogos de guerra e conquista (a infame Conferência de Berlim, 1884-1885). Não faz muito tempo que foi proferida em solo europeu a seguinte frase de Cecil Rhodes: “se pudesse, colonizaria os planetas”.



Se os europeus não estão “na crista da onda” no momento atual, nada indica que estes tenham optado por deixar de buscar “posições de poder” mais privilegiadas no longo prazo (houve diversos momentos, na História, em que “a Europa”, tomada como uma unidade, esteve colocada de forma desfavorável no jogo de poder global). Ademais, a manutenção de “posições de poder”, no sistema internacional, parece algo menos durável do que se imagina – ainda carecem de explicação acurada os acontecimentos de 1989-1991. Os “apologetas do poder” costumam dar com os burros n’água quando se dão à tarefa de predizer (haja vista o infame artigo “Back To The Future” de Mearsheimer, no qual este “prediz”, em 1990, o fim da União Européia e da OTAN).



Os europeus não apenas têm ciência dos jogos de poder internacionais da atualidade – eles sabem, tão ou mais acuradamente que George W. Bush e seus assessores, do peso que as instituições internacionais exercem neste (não nos esqueçamos que os europeus foram os pioneiros na tarefa de constituir instituições globais). Sabem do contexto em que Bush Júnior “conclama” os estados a cooperar com a “reconstrução” do Iraque. França e Alemanha, aliás, virtuais “líderes” da União Européia, estão empenhados na tarefa de constituição de uma força militar continental descolada da influência norte-americana (ou seja, capaz de se contrapor à OTAN). Nesse quesito em especial, mas em muitos outros, sabem França e Alemanha que pouco ou nada podem contar com o Reino Unido de Tony Blair, em sua eterna “dobradinha” com os ditames de Washington. Não há, a rigor, surpresas na decisão desses países em “barrar” a proposta norte-americana na ONU, ainda mais quando nos lembramos dos embates testemunhados entre eles e os Estados Unidos, antes da invasão.



As cartas estão, lentamente, às vezes contra a vontade de alguns jogadores, sendo colocadas na mesa. Os europeus, buscando construir “alternativa global” ao quase-imperial poder norte-americano (adentrando o cenário, “pelas beiradas”, a China e, com menos entusiasmo, a Rússia). Todos os envolvidos sabem que as instituições são um “trunfo” de extrema relevância nessa disputa (ainda acanhada, que promete crescer no futuro). A ONU, repentinamente no centro desse cuidadoso “xadrez” diplomático, pode inclusive auferir ganhos em termos de seu “papel” na ordem mundial em reconstrução. No momento, aguarda ela os próximos movimentos dos “jogadores”. Como todos nós, exceção feita aos “apologetas do poder”, que já sabem (ou crêem saber) todos os resultados! Aguardemos, pois, as próximas “jogadas” e descaminhos do poder no plano internacional.

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