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Artigos-->A CACOÉPIA E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA -- 18/07/2001 - 10:58 (JOÃO DE FREITAS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Os nossos idiomas são muitos (milhares). Não foi obra dos deuses como dizem as lendas. São os erros de pronúncia (cacoépia) que se popularizam e posteriormente forçam as mudanças ortográficas.



Antes mesmo de inventarem a escrita, as línguas já eram várias. E variavam mais rapidamente. A escrita, por sua vez, veio diminuir um pouco o ritmo da modificação da língua, contudo não o impede. A linguagem oral predomina, e surgem as variantes, que depois tomam o lugar das formas antigas, as quais passam a fazer parte da língua arcaica.



Toda vez que um erro ortoépico passa a fazer parte da linguagem de uma grande maioria de um povo, essa forma de pronúncia passa a ser considerada correta, criando-se uma variante gráfica, para adaptá-la à pronúncia. Após desaparecer a pronúncia antiga, a velha grafia cai em desuso, tornando-se arcaica.



Como cada grupo distorce a língua a seu modo, isso deu origem às mais de duas mil e quinhentas línguas que existem hoje.



Veja exemplos da gradativa mudança:



“Undeci”, do latim, passou para “undici”, “undci”, “undce”, “unce”, “once”, chegando a nós como “onze”.

O verbo latim “ponere”, entre os portucalenses (atualmente portugueses), passou por “poner”, “ponher”, “poer”, chegando a nós como “pôr”. Entre os espanhóis, a mudança foi mais lenta, ainda hoje dizendo eles “poner”.

“Civitate”, do latim, chegou a nós hoje como “cidade”.

O nosso pronome de tratamento “você” é uma redução de “vossa mercê”. Atualmente, muitas vezes ouve-se “ocê”, o que mostra a nossa tendência de eliminar partes das palavras.

Na nossa língua atual, podemos observar mudanças que se vão operando entre nós: “bom”, em linguagem rústica é “bão”; futuramente poderá ser palavra oficial, assim como “non” passou a ser “não”, tornando-se arcaica a forma antiga. “obligação”, do latim “obligatio”, já não é mais forma correta, já virou linguagem do Cebolinha, prevalecendo atualmente “obrigação”. A nossa tendência é trocar o “l” por “r” e “om” por “ão”.



Do latim “locus”, derivou-se “local”, e deste nasceu “logar”, a forma que ainda se escrevia no século passado. Mas, como temos a tendência a substituir o “o” por “u”, a pronúncia errônea generalizou-se e a grafia passou a ser “lugar”. Assim também, o latim “moliere” é hoje “mulher” na nossa língua.



Atualmente está muito comum ouvirmos: miupia, cartulina, tiatro, cumpanheiro, cubiça, até culégio e pudêr.



Um dia, dada a intensa repetição dessas pronúncias erradas, elas tomarão o lugar das corretas, conseqüentemente alterando a grafia.



Não acho, entretanto, que já seja o momento de nos juntarmos aos que dizem “culégio” e “cartulina”, “miupia” (miu.pi.a), etc. O correto ainda é “colégio”, “cartolina” e “miopia” (mi.o.pi.a). Mas a tendência é essas palavras mudarem, como “logar” (grafia ainda utilizada no final do século XIX) hoje é “lugar”.







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