Apesar das poucas chuvas ainda tenho esperança de poder me banhar ainda mais com a entrada do verão que pede para chegar com mais águas. Queria poder ajudar, mas minhas amigas e companheirinhas estão cada vez mais distantes de mim. Não por causa delas, mas pela situação em que nos encontramos.
Os seres humanos estão nos defendendo tanto em projetos, em palestras, em comerciais, em peças de teatro, mas vejo poucos exemplos de coragem em desbravar o verde de que tanto falam e precisam. Estou ficando com umas verruguinhas aqui e ali, mas são sinais de que estou enfraquecendo, galhinhos que pedem para nascer mas que no final da minha vida, serão transformadas em sementes que querem vingar apesar da minha partida. O que me alegra são algumas lembranças de casais que se abraçaram debaixo de minha sombra. O vento soprando nas minhas folhas, as flores desabrochando de felicidade quando era bem tratada. Mas agora elas estão ficando raras a cada ano que passa. Bem, minhas raízes ainda estão firmes e fortes o que me deixa mais segura. Morro de medo quando vejo tratores e engenheiros de obras passando aos montes com aqueles rolos de projetos infinitos delineando novos prédios que estão por se erguer no lugar de outras companheiras como eu e meus amigos que nos acompanham na estrada verde. Outro dia um passarinho me disse que estava muito triste, pois haviam derrubado centenas de nós em um loteamento para construírem um condomínio enorme. Ele me contou que a sorte era que eles estavam para ir para o norte seguindo o vento de todos os anos.
Outro dia um homem se sentou num banco perto de mim e disse que estava sentindo muito calor e que isso não era normal para esta estação. Ao lado dele o filho perguntando se havia algum parque por perto e ele explicando que seria uma boa idéia defender a valorização das áreas verdes existentes, dos hortos florestais e conseqüentemente, de que seu pequeno garoto precisava de uma visão paisagística e ecológica maior. Puxa, isso me alegrou naquela hora.
Muita gente passa perto de mim e comenta que viajou de avião e lá de cima pôde ver o espetáculo das dunas do nordeste, mas dificilmente escuto alguém falar que ficou encantado ao ver o espetáculo de uma paisagem verde vista lá do céu. A minha sorte são os pesquisadores que estão constantemente monitorando as queimadas através dos satélites. Parece que estamos no meio de uma avalanche ou então assistindo uma bola de neve se formando, mas ninguém consegue fazer nada.
A cada ano que passa eu fico triste porque só escuto palavras bonitas, mas muito pouco é feito a nosso favor. As pessoas não entendem como nós a amamos. Qual a nossa missão aqui. Eu não sabia que ser árvore seria tão difícil assim. Mas estou aprendendo. Estou sempre pronta a escutar alguém. Mesmo assim estou cada vez mais sozinha. Confesso que estou precisando de ajuda. Será que o ser humano também sente isso que se passa em mim também? Bom, minha esperança é que a resposta seja “sim”.
Olha só... o por do sol lá no horizonte, não é lindo? Deixa eu dar tchau para ele antes que meu amigo se vá. Não sei se amanhã estarei aqui...