Quem não se lembra da imagem folclórica e excêntrica do nosso querido Abelardo Barbosa, mais conhecido como o "Chacrinha" ou "Velho Guerreiro", que animava as nossas tardes de sábado com a sua fenomenal "Discoteca do Chacrinha"?
Chacrinha foi o maior de nossos comunicadores populares, um ícone da comunicação televisiva. Lançou diversos artista que até hoje brilham no cenário musical brasileiro. Há no entanto uma outra faceta do nosso querido Abelardo que poucos conhecem : o fardo que os buzinados de seu programa tinham que carregar.
O que acontecia àqueles que por algum motivo eram agraciados com as sonoras buzinadas do Mestre?
Aparentemente nada, porém na realidade muitas dessas de pessoas ficaram marcadas para sempre. Vejamos então dois exemplos reais dessa nefasta experiência.
Marcílio era um pacato cidadão de Angra dos Reis, e trabalhava no Estaleiro Verolme, na época com mais de cinco mil empregados. Seu sonho era mostrar os seus dotes canoros no programa do Chacrinha. Ensaiou em casa exaustivamente a canção " Azul da cor do mar" de Tim Maia, com os efeitos de tremolo na voz e tudo. Estava perfeito. Era chegar na TV e correr para o abraço. Toda a Verolme foi avisada e os vizinhos de Angra também. Seria a consagração. Quem sabe mesmo o início de uma promissora carreira. No dia e hora marcado, lá estava Marcílio, firme , forte e confiante para decolar rumo ao estrelato. O programa já estava no ar há um bom tempo e nada de chamarem o cidadão para entrar em cena. Marcílio estava preocupado, pois o programa já estava quase acabando. A verolme e Angra dos reis em peso estavam ligados na telinha. Eis então que o Velho Guerreiro anunciou o último candidato. Marcílio entrou em cena e o apresentador perguntou: - O Sr. vai cantar o quê?
-" Vou cantar Azul da cor do mar"
Foi então que o mais inesperado aconteceu. Inexplicavelmente o Chacrinha retrucou: -" Negativo! Você vai cantar "Fuscão Preto”! Imediatamente a orquestra atacou com os acordes iniciais da música, cuja letra Marcílio mal sabia. Ao iniciar a primeira estrofe o velho Guerreiro desferiu uma baita buzinada bem no rosto do calouro e o programa terminou.
Marcílio ficou completamente atordoado e desolado com o acontecido. Na sua cabeça só passava um pensamento: Como é que eu vou voltar para Angra dos Reis depois desse vexame? E na Verolme Segunda feira? Como é que eu vou enfrentar aquela massa?
Verolme, Segunda pela manhã.
Uma verdadeira multidão se concentrava na portado estaleiro como se estivessem esperando por alguma celebridade. Ao dobrar a esquina, Marcílio estranhou a aglomeração e perguntou o que estava acontecendo. Ao se aproximar da portaria, uma verdadeira massa humana começou a gritar:" Fuscão Preto! Fuscão Preto! ........Fuscão preto.
Resumo: Hoje em dia quem chegar em Angra dos Reis e perguntar pelo seu Marcílio, vai ter dificuldade em encontrar, mas se perguntarem pelo Fuscão Preto , todo mundo saberá indicar o seu endereço. Graças ao Velho Guerreiro o homem hoje é figurinha fácil.
Outra vítima do Velho Chacrinha, foi uma dupla de irmãos de S.João de Meriti que cantava e agradava em festinhas do bairro. Os meninos eram super afinados e de boa aparência também. Tinham tudo para deslanchar e pegar uma carona no movimento da Jovem Guarda que na época estava no auge. Os dois não se fizeram de rogados e partiram para a Discoteca do Chacrinha. A rua toda estava colada em frente a telinha para ver o nascimento da mais nova dupla de sucesso: Milton e Leno. A música escolhida era um sucesso dos Vips. Na primeira estrofe, embora a dupla estivesse perfeita, o Velho Guerreiro num daqueles seus arrobos inusitados, tascou uma sonora buzinada nos rapazes.
Nem o auditório entendeu o porquê. Triste foi ter que voltar para casa, na madrugada e ser recebido na esquina por um bando de gozadores que perseguiu os rapazes até o portão de casa buzinando e gritando: Fon Fon!
Como se não bastasse, o líder da dupla ganhou o apelido vitalício de “Milton FonFon”, o que o deixou terrivelmente traumatizado. Os dois nunca mais quiseram saber de cantoria. Um se tornou policial e o outro pedreiro.
Meu querido Velho Guerreiro, descanse em paz pois ninguém é perfeito.