O Brasão e a Incoerência Histórica do Hino do Piauí
Adrião Neto
Em maio deste ano tive a satisfação de influenciar e contribuir com os meus conhecimentos para que a Secretaria Estadual de Comunicação fizesse a correção no Brasão das Armas do Estado do Piauí, que há anos vinha sendo estampado com erros de configuração do padrão heráldico estabelecido pela Lei nº 1050, de 24 de julho de 1922, que o instituiu.
Ao tempo em que parabenizo a SECOM por ter corrigido as falhas desse importante símbolo do Estado – usado como símbolo oficial da atual administração, que inclusive o transformou em broche para que todo petista de carteirinha e de contra-cheque o exiba na lapela, apelo para que o governo do Estado passe a usá-lo, com a devida correção, onde quer que se faça necessário, inclusive no Palácio de Karnak e não apenas nas fartas publicidades governamentais.
E por falar em símbolo oficial do Estado, aproveito este espaço para desencadear uma campanha junto aos intelectuais, aos professores e alunos e ao público em geral, com a finalidade de sensibilizar o Governo do Estado, a Assembléia Legislativa e o Judiciário, para quem de direito, no âmbito de suas atribuições, tome as providências necessárias para suprimir uma estrofe do Hino do Piauí.
O poeta Da Costa e Silva, o Príncipe dos Poetas do Piauí e um dos maiores poetas do Brasil de todos os tempos, ao ser convidado para compor o nosso hino, escreveu um belo poema, uma verdadeira obra de arte, no entanto, cometeu um grave deslize histórico.
Na estrofe: “Desbravando-te os campos distantes / Na missão do trabalho e da paz / A aventura de dois bandeirantes / A semente da pátria nos traz”, o poeta ao exaltar os bandeirantes (Domingos Jorge Velho e Domingos Afonso Mafrense), fala “Na missão do trabalho e da paz” sem, contudo atentar para o detalhe de que o trabalho ou um dos trabalhos dos bandeirantes era guerrear contra os índios para lhes tomar as terras e aprisionar os sobreviventes para o trabalho escravo.
Nessa missão, rotulada pelo poeta como do trabalho e da paz, eles, os dois bandeirantes e muitos outros aventureiros, promoveram a guerra. E como comandantes das expedições paramilitares, patrocinaram grandes carnificinas, matando, esfolando e exterminando nações inteiras, dando péssimo exemplo aos seus seguidores que não sossegaram enquanto não eliminaram o último índio do solo piauiense.
É exatamente por este motivo que sou contra a permanência da estrofe supramencionada como parte integrante do Hino do Piauí, que ao invés de exaltar os índios comete a incoerência histórica de exaltar os bandeirantes.
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Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista.
Comentarios
Neldon Moura - 14/03/2021
Concordo plenamente. Nessa época horrores forsm cometidos