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Artigos-->NA CALADA DA NOITE -- 26/07/2001 - 19:29 (Maurilio Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


NA CALADA DA NOITE



Estava eu no centro do Rio de Janeiro, lá pelas onze da noite, tentando fazer uma ligação interurbana. A Praça Tiradentes já estava um tanto deserta e a noite fria concorria para que houvesse menos gente na rua. Quem conhece o Rio sabe que este local não é muito recomendável durante o dia e a noite então nem se fala. O michê rola solto e a fauna é das mais estranhas possíveis. Abrigado sob um orelhão, lá estava eu, entregue aos delírios de uma paixão distante, quando um automóvel Del Rey com umas quatro pessoas passou bem devagarinho , e os seus ocupantes ao verem um mendigo que estava deitado sob a marquise , ficaram agitados e pararam o veículo mais a frente e começaram a confabular. Nesta hora me veio um frio pela espinha que tomou todo o meu corpo. Meu Deus do céu! Eu seria testemunha de um assassinato ou uma cena de vandalismo. E pior ainda, por estar bem em frente ao mendigo, seria executado como queima de arquivo. Pedí licença à pessoa com quem falava e deixei o telefone quase pendurado. O Del Rey deu marcha à ré silenciosamente e parou bem em frente ao moribundo. A porta se abriu e um homem magro de altura mediana saiu e dirigiu-se ao pobre coitado que estava totalmente indefeso, os demais ficaram no carro dando cobertura. A essa hora eu estava completamente paralisado. O homem então se agachou junto ao corpo do mendigo, que não esboçava a menor reação, e espantosamente começou a acariciar a sua face e iniciou um pequeno interrogatório. A cada pergunta, que eu não conseguia ouvir , o mendigo respondia com um aceno de cabeça, ora de afirmação, ora de negação.

Eu continuava estático, sem nada entender, quando o homem então acenou para os demais comparsas no carro. A porta do veículo se abriu e saiu um casal trazendo uma cafeteira e um saco de papel. Alí naquele momento, numa noite de muito frio no Rio de Janeiro, a casal começou a servir um copo de chocolate quente, acompanhado de um sanduíche talvez de queijo com presunto. Enquanto o mendigo comia, os ocupantes daquele misterioso carro lhe faziam carinhos no rosto, nos ombros e afagavam os seus cabelos.

Ao terminar o lanche , o rapaz perguntou algo mais ao mendigo que respondeu com um aceno positivo de cabeça. Ato contínuo, o homem dirigiu-se até o carro e voltou trazendo um cobertor, novinho em folha e respeitosamente cobriu o corpo do pobre homem, que pode então se abrigar daquele frio intenso que fazia naquela noite. Depois de mais uma seção de afagos o grupo se afastou silenciosamente e saiu da mesma forma que chegou, anonimamente. A essa altura eu já havia deixado cair o telefone e a pessoa do outro lado já estava desesperada, pensando que eu havia sido sequestrado ou coisa semelhante. Com certeza esta foi a maior demonstração de solidariedade anônima que eu já presenciei na minha vida.Me arrependo de não ter anotado a placa do carro para tentar localizar essas pessoas tão especiais. Talvez se eu o fizesse, não agradasse a quem preferisse fazer caridade de forma tão nobre e incomum.

A cada vez que me lembro dessa passagem, uma emoção tão forte toma a minha alma, como se estivesse ainda presenciando o fato. Eu achando que iria ser testemunha de uma atrocidade, acabei tendo a experiência mais linda da minha vida.



Maurilio Silva

Silmaster@yahoo.com.br



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