“O que vale é o que nos transcende a cada instante”.
Emílio Moura
Cada cabeça uma sentença, ditado dos antigos, condensa um saber muito profundo, que hoje em dia é bastante deturpado pelas idéias da globalização. Se bem se presta atenção, não existem duas opiniões iguais entre pessoas que moram na mesma rua, no mesmo bairro, na mesma cidade e até entre membros da mesma família. Pelo menos na forma de dizer ou de escrever que cada um escolhe. Daí a literatura. Daí a filosofia. Essa é a parte positiva do pensar e do sentir: variedade, diferença, de onde se tirará o senso comum. Nenhuma briga, nenhuma guerra. Todos a guardar o devido respeito.
Porém os donos de empresas jornalísticas não gostam de dar espaço a opiniões. Primeiramente, porque escrever a notícia toda pessoa regularmente alfabetizada é capaz de fazê-lo, bem ou mal; segundo, porque a notícia pode ser manipulada, dirigida para a massificação, utilizando-se de um padrão que dizem de qualidade – no entanto espelha a empresa, que, em si, é um padrão mercadológico, e assim manipula seus empregados e o próprio mercado através da mercadoria. Então, notícia = mercadoria.
Já os filósofos, os pensadores, os poetas e artistas de modo geral detestam a notícia padronizada, a linguagem mercadológica e os métodos de assim transformar a imprensa e a sociedade. Embora precisem da notícia, não gostam de como é ela feita e da sua utilização para a massificação do mundo. Estes, ao contrário daqueles, preferem a opinião sobre a notícia (ou a notícia com opinião), pois na verdade toda notícia conduz uma opinião e vice-versa. Assim nascem a crônica, o ensaio, a crítica, o estudo, o comentário, etc. E os leitores mais letrados gostam de pensar, não importa que sejam minoria.
Essas são as razões que levam os jornais a manter sua página de opinião. Diríamos que ela é o sangue a circular por todo o corpo da notícia, sendo esta a carne e os ossos – apenas a parte material.
Já existem muitos jornais sem página de opinião, o que é lastimável. Jornais periféricos, de província, que querem ser mais realistas que o rei, pois a “Folha de São Paulo” e o “Jornal do Brasil”, que podemos considerar os melhores exemplos de grandes cidades, mantêm seus artigos de opinião valorizados e pagos, escritos por aqueles que são, além de bem informados em sua área, as melhores cabeças pensantes.
Assim, é saudável, de vez em quando, tirar os olhos da notícia política, que só denuncia roubos e falcatruas de autoridades, e das páginas policiais, que invadem o noticiário generoso sobre os que estão construindo governantes honestos e trabalhadores. Elas desviam-nos para escândalos de roubos, estupros, latrocínios, desavenças e para as mais sangrentas guerras.
A opinião “é o que nos transcende”, como diz o poeta Emílio Moura. Louvemos pois as páginas de opinião e os opinionistas de nossa terra, que trabalham sem ganhar nada, por simples idealismo.