0000ff>Dê para onde der... Não posso evitar a impressão e a emoção de ver e sentir as coisas tal como as sinto. Ando por cá há 64 anos e pico... Adquiri pois natural e inevitavelmente uma crosta íntima que espontânea me subjuga a percepção e mesmo que por isso dê, como neste exacto momento, nada, mesmo nada posso fazer para evitar os fluídos sensoriais que se estabelecem entre mim e o exterior...
Consigo... Ex.mo e caro Usineiro... Progressiva e evolutivamente... Tem de ser outro tanto assim consoante o tempo foi passando por si e Você pelo tempo...
Li a "PROPOSTA" do dia, plena de sádia ingenuidade, espumante de querer solicitar só coisas boas, só frutos bons do essencial da vida, e também fui por aqui feito fiuzinha de maleta às costas a caminho de casa e a contemplar as imagens circundantes para colher-lhes o sumo de poesia...
Mas... Recolhendo o que me abarcava... Não... Não pude ver elementos e factos bons na ansiosa e aflitiva amálgama que me envolvia, confuso e propulsante enxurro de massa humana em trânsito pela minha cidade, pequeníssimo e pedragoso burgo em relação, por exemplo, à gigantesca São Paulo em abrupta eclosão de gente...
Tentei pois seleccionar e captar imagética com soro de poesia. Vi um passarinho isolado, perdido de todo sobre um beiral de cimento. Vi um pobre velho estendido no chão... Vi rostos... Rostos de sensação voltada não sei para onde... Vi robôs de chapa conduzidos por loucos a fingir que têm juízo...
Por isso, espécie de velho lobo intenso de vícios, mas que não quer deliberadamente fazer mal a alguém, a poesia que vi surgiu-me simples e singela em "Para quê?... Afinal!...", o que não é nada promissor para uma professorazinha delicada e docemente ingénua que insiste e persiste conduzir seus alunos para a sala de aula azul do azul da vida!...
Todavia... A poesia está aí e passa exactamente por aí: alcançar e viver no céu no meio do inferno... Se possível em azul...
993300>António Torre da Guia
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