Mulher apanha no Brasil? Apanha. Todos os dias. As estatísticas não são confiáveis. Talvez uma a cada 15 minutos. Talvez num intervalo de tempo menor ainda.
As motivações são as mais diversas. Maridos embriagados que se sentem mais homens ao espancar as parceiras, ciúmes, agressões nas ruas buscando bolsas e valores de forma mais fácil, assim vai.
A primeira delegacia especializada em atendimento feminino no Brasil foi inaugurada há muitos anos. Foi quando as autoridades resolveram deixar de lado a insensibilidade e perceber que as mulheres precisavam de um atendimento diferenciado, longe das piadinhas dos policiais que viam a vítima como causadora de estupros. A falta de sensibilidade era tal que milhares de mulheres passaram pela violência sem deixar registro em delegacias. Não raro um delegado dizia que a culpa era da mulher por usar minissaia ou roupa decotada. Tempos de burrice nas delegacias.
Curiosamente, na cidade de Curitiba com menos de um mês de atividades uma mulher registrou queixa por agressão. Nada de mais se a mulher não fosse agente policial da delegacia especializada e o agressor policial civil.
Coisas da década de 1980, quando os resquícios da ditadura militar e o cerceamento dos direitos civis fizeram escola no Brasil.
A criação de delegacias especializadas ajudou a identificar e penalizar agressores por todo o país, mas ainda não se sabe como o fenômeno da violência contra a mulher continua tão assustador quanto era há vinte anos.
A sociedade evoluiu um pouco, mas as mulheres apanham tanto na favela quanto nas mansões. Aliás, nos anos 80 uma colunista famosa, Consuelo Badra, foi estuprada por gente influente de Brasília, algemada numa cama de motel e tudo foi encarado de forma normal pela sociedade. Como se vê, até o estupro gente importante pode praticar sem temor no país.
Mas tentando recuperar o foco principal, esta semana Porto Velho recebe a visita da ministra Emília Therezinha Xavier Fernandes, para abordar a questão da violência contra a mulher. A idéia é prevenir a violência e acompanhar as vítimas, já que as seqüelas físicas e psicológicas são imensas. Vale conferir e verificar os novos posicionamentos da sociedade, que por muitos anos foi conivente com tanta violência.