Semanalmente, estaremos publicando pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.
Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.
É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar outras essências, a partir da publicação destes textos.
Gilka Machado
Só muito tarde conheci a poesia de Gilka Machado. Ela me veio numa tarde de domingo através das mãos de um companheiro de lista literária. Inevitável encanto que tomou conta dos meus olhos.
Gilka da Costa Melo Machado nasceu a 12 de março de 1893, no Rio de Janeiro.
Considerando-se a época e o contexto histórico-social em que viveu, havia nas composições de Gilka Machado uma audácia que desafiava os preceitos e a conduta moral do seu tempo.
“Gilka Machado, como poucas poetisas de sua época, fez da liberdade de expressão uma forma de libertar-se e de libertar a mulher, pela consciência erótica impressa, ousadamente, no verso. Revisitá-la, hoje, torna-se imprescindível, se quisermos investigar as limitações e avanços do tema do erotismo na produção literária de autoria feminina, bem como reconstruir a caminhada da mulher, na luta pela emancipação”.(Angélica Soares in “O Erotismo Poético de Gilka Machado: um marco na libertação da Mulher – Revista Mulheres e Literatura)”.
Publicações: Cristais Partidos, Revelação dos Perfumes, Estados de Alma, Mulher Nua, Meu Glorioso Pecado, Carne e Alma, Sublimação, Velha Poesia e Meu Rosto.
Alguns anos antes de falecer (aos 87 anos), a partir de uma seleção pessoal dos livros: Cristais Partidos, Estados de Alma, Mulher Nua, Meu Gloriosos Pecado e Velha Poesia, publicou Gilka Machado – Poesias Completas
Um pouco da poesia de Gilka Machado:
SAUDADES
De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo
(in Velha poesia, 1965)
PARTICULARIDADES 1
Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda afeição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.
O Vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
e tanto penso em ti, ó meu ausente amado!
que te sinto no Vento e a ele, feliz, me exponho.
Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me toda nua...
– sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças...