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Artigos-->BAGUNÇANDO BRASÍLIA -- 29/10/2003 - 21:55 (Airo Zamoner) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BAGUNÇANDO BRASÍLIA



Estou colocando a disposição dos leitores do Usina de Letras, o livro: "Bagunçando Brasília", já traduzido para o italiano com o nome Scompigliare Brasília, do tradutor Marco Scalabrino. No dizer de muitos leitores “...é daquelas histórias que não dá vontade de parar. O único desejo é chegar ao final da leitura; uma história muito bem contada e carregada de humanismo e escrita no estilo característico do autor, um estilo firme e crítico.”



Realmente, trata-se de uma história cheia de aventuras, mistério, ação, onde os fatos se sucedem de forma frenética, levando-nos a uma diversão intensa, mas principalmente fazendo-nos repensar nossa sociedade e os métodos obscuros de muitos políticos e autoridades.



Leia a seguir uma parte do primeiro Capítulo intitulado BANCO DE PEDRA. Temas transversais como cidadania, ética e pluralidade cultural, são abordados de forma intensa, dinâmica, onde os acontecimentos se sucedem freneticamente prendendo o leitor da primeira à última página



CAPÍTULO I



BANCO DE PEDRA



Um estrondo seguido de um longo berro e de novos estrondos, fez tremer toda a velha casa de madeira. O bule de café quase fervendo, que Elita transportava para a cozinha, voou desastradamente para o chão.



Paralisada, suas mãos franziram o avental contra o rosto. Viu Fabiano chegar com os olhos esbugalhados de susto. Manteve-se estática. Parecia em transe hipnótico.



– O que é isso, mãe?



Congelada, Elita não respondeu. O pandemônio sonoro continuou vindo do quarto do casal. Fabiano agarrou a mãe pelos ombros e a sacudiu com firmeza. Saiu do transe, sem largar o avental premido sobre a boca e ambos correram para o quarto. Porta fechada, lá dentro, repentinamente, se fez silêncio. Entreolharam-se assustados. Fabiano deu um safanão violento na porta leve de madeira compensada. Ela se abriu submissa, fazendo dois ou três vaivéns irregulares. Um último empurrão escancarou o quarto e a cena descortinou-se patética.



A velha cama do casal estava tombada sobre a parede. Os móveis, há pouco arremessados para todos os lados, tinham se transformado em estilhaços imprestáveis. A balbúrdia era total. Roupas espalhadas pelo chão. Cacos do espelho da velha penteadeira, humilde herança da avó de Fabiano, salpicavam o cenário. Sentado em meio aos escombros, Giusto cobria o rosto com as grandes e fortes mãos calejadas e recém feridas. Escondia lágrimas e sangue. As mãos apertavam a boca e o nariz, na tentativa inútil de escamotear soluços irreprimíveis.



Fabiano nunca havia visto seu pai tão desgraçadamente batido. Correu para ele. Tentou abraçá-lo. Giusto não se moveu. Elita, com o dorso da mão esquerda, fez sinal insistente e mudo para que o filho deixasse os dois sozinhos. Lágrimas amargas e quietas saltaram do rosto jovem.



Afastou-se de costas. Viu a mãe repetir o gesto sem parar. Giusto se entregava como um menino ao consolo da mulher, liberando soluços envergonhados.



***



Fabiano correu para a rua como se soubesse aonde ir. Na verdade sabia. Nos momentos de desespero ou de intensa alegria, corria para Guacira.



Desceu a ladeira íngreme. Suas lágrimas secavam ao vento. A longa subida reduziu seu ímpeto e suas forças pareciam minguar. A imagem de seu pai dilacerava seu coração e não desmarcava seus olhos.



O livro “Bagunçando Brasília” está exposto, e sendo vendido na “Vitrine” do site Usina de Letras.

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