Nesse dia de festa e alegria, uma multidão enfeitada e brilhante acotovela-se em torno do palácio de Tíndaro, soberano de Esparta. Ele deve arrumar um marido para sua filha Helena, que dizem ser a mais bela mulher do mundo. Todos os monarcas gregos querem casar-se com ela, e isso preocupa Tíndaro – quando Helena escolher um, muitos ficarão com ciúmes! É um sério risco de disputas e até de guerras.
Felizmente, um desses reis, o astuto Ulisses, que reina sobre Ítaca, compreende as preocupações de Tíndaro. Apresenta-se diante deste e sugere:
– Ó rei! Peça a todos os pretendentes de Helena que jurem defender em qualquer circunstância o marido que ela escolher. Dito e feito: dali a pouco, numa cerimônia solene no maior salão do palácio, todos os soberanos prestam o juramento exigido por Tíndaro.
Em seguida, a bela Helena entra na sala com uma coroa de flores na mão. Olha cada um dos príncipes. De repente, decide-se. Pára diante de Menelau, o mais rico dos aqueus, e deposita a coroa sobre sua cabeça. Caberá a ele, e só a ele, conhecer a felicidade de viver com Helena e de (quando Tíndaro morrer) tornar-se rei de Esparta...
Enquanto Menelau, invejado por todos, reina agora sobre Esparta, um jovem pastor de ovelhas sonha muito longe dali, no monte Ida. Em poucas horas, voltará à pobre cabana de seus pais, camponeses como ele. No entanto, Páris Alexandre - assim ele se chama – não é um pastor comum. 0 rapaz ignora o segredo de seu nascimento. Seus verdadeiros pais não são os pastores miseráveis que o esperam no casebre, mas Príamo e Hécuba, rei e rainha de Tróia, a mais rica e poderosa cidade da Ásia Menor.
Quando Páris nasceu, Hécuba sonhou que estava dando à luz uma porção de serpentes chamejantes, que se enrolavam umas nas outras e silvavam. Chamados a interpretar esse sonho, os adivinhos foram taxativos: a criança causaria a ruína da família e a destruição de Tróia. Por isso, Príamo resolveu abandonar o menino às feras, no alto do monte Ida. Mas uma ursa encontrou o bebê e amamentou-o. Um camponês observou o animal e seguiu-o, descobrindo a criança e adotando-a...
Às vezes, os deuses pregam peças bem cruéis nos homens... Todas as divindades estão divertindo-se num fabuloso banquete. Todas? Não, Zeus não quis convidar Éris, a Discórdia, a fim de evitar as brigas que ela sempre provoca. Com raiva, Éris resolve vingar-se. Arranja um pomo de ouro, grava na fruta as palavras "À mais bela" e, invisível, lança-a no meio do banquete. Zeus segura nas mãos a preciosa maçã e, em voz alta, lê a frase. No mesmo instante, começa a maior algazarra. Todas as deusas reivindicam o prêmio. Zeus lança um raio, que acalma todo mundo. Depois, declara que apenas três podem merecer o prêmio: Afrodite, deusa do amor; Atena, deusa da sabedoria; e, é claro, Hera, sua mulher, que ele não quer magoar.
Mas é necessário um árbitro. Preocupado em não descontentar duas deusas, Zeus recusa-se a ser o juiz. Então, confia a maçã de ouro a Hermes, seu mensageiro, e encarrega-o de levar as três deusas ao mais belo dos mortais – Páris. A decisão caberá a ele.
Pode-se bem imaginar o grande espanto do pastor quando vê quatro divindades aparecer à sua frente. Hermes explica-lhe o problema, dá-lhe a maçã e deixa-o escolher.
O embaraço de Páris é imenso. Em toda a sua vida, nunca viu criaturas tão magníficas.
Se for a escolhida, Hera propõe dar a ele riqueza e poder. Atena oferece-lhe o conhecimento e a sabedoria. Já Afrodite promete-lhe o amor da mais bela mulher do mundo, Helena, esposa de Menelau, o rei de Esparta.
Páris acaba por estender a maçã a Afrodite, que, para mostrar sua gratidão, revela-lhe o segredo de seu nascimento.
As deusas desaparecem, deixando Páris maravilhado e atônito com o que acaba de descobrir. Mas ainda não sabe que atraiu para si o ódio de Hera e Atena, duas divindades terríveis...
Algum tempo depois, anunciam-se em todas as aldeias os jogos atléticos de Tróia. Páris comparece e, graças a sua força, vence sem dificuldade todas as provas. O rei Príamo felicita-o e coroa-o vencedor. O rapaz, então, mostra os panos que o enrolavam quando foi abandonado. O soberano, esquecendo a sinistra profecia, reconhece o filho e lhe restitui o lugar de príncipe.
Páris torna-se o favorito do velho rei, que não hesita em lhe confiar as mais delicadas missões. Um dia, manda-o à Grécia resolver um problema diplomático. Na volta, Páris detém-se em Esparta. Sendo príncipe de Tróia, é recebido no palácio de Menelau. Como este está ausente, quem se encarrega de acolher o jovem troiano é a rainha Helena.
Em pouco tempo, nasce entre eles o amor: Páris não esqueceu a promessa de Afrodite, e Helena, sentindo-se negligenciada pelo marido, resolve embarcar com o príncipe para Tróia.
Ao retornar e descobrir a traição, Menelau fica furioso. É declarada guerra a Tróia...
QUESNEL, Alain. A grécia. Mitos e lendas. (Trad.: Ana Maria Machado). 6ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 1996.