“A inútil, avarenta e quase estéril ABL estava de fato riquíssima em 1977. Danuza Leão, coitadinha, não se mostra bem informada sobre a casa dos ‘imortais’ mortais. Estes aumentaram as sua férias escandalosamente. Os prêmios concedidos pelo grêmio, observou um acadêmico, eram inexpressivos. Segundo o jurista Pontes de Miranda, vários ‘imortais’ votariam até no Pelé, se o Governo mandasse. No seu diário o Jusué Montello expôs a subserviência nauseabunda desses acadêmicos diante do Governo Militar. Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), em 20 de julho de 1979, pronunciou um discurso hipócrita na inauguração do no novo prédio da Academia, o Centro Cultural do Brasil. Hipócrita também foi o Jusué Montello, quando falou com a repórter Magda de Almeida. E o Austregésilo de Athayde criticou a negligência e a improdutividade dos seus colegas. Curvados em frente do Poder, os ‘imortais’ trocaram o escritor Orígenes Lessa pelo Senador José Sarney, presidente do PDS.”
Esse é só o intróito de um dos vários capítulos do livro “A Academia do Fardão e da Confusão”, de Fernando Jorge. O Fernando deve ter lá seus motivos para estar muito zangado com os “imortais”, com a Academia. Tanto que expressou no início do livro sua admiração pela coquete Vera Loyola (aquela das padarias, da festa pra cachorros), afirmando ter ela o intelecto superior ao de trinta membros da ABL. Preferências pessoais à parte, o fato é que o conteúdo do livro é no mínimo interessante. “Ridícula, simiesca, desprovida de autenticidade: este é o retrato da Academia Brasileira de Letras, desde os seus primórdios”, eis uma definição do Jorge que assino em baixo. Qualquer semelhança com nosso Senado não é mera coincidência, guardadas as devidas proporções. “Esqueçam tudo que escrevi”, disse certa vez o bandeirinha Fernando Henrique Cardoso, quando alguém apontou as contradições em seu discurso político: quando estava no exílio (quem nesse mundo não gostaria de se auto-exilar na França???) era assim; quando chegou ao poder era assado. Alguém duvida que Sua Excelência ganharia a vaga do Jorge Amado se se candidatasse? Li algumas porcarias que ele escreveu. Melhor esquecê-las de fato. Miseravelmente só se ouve falar da ABL quando morre um dos seus membros. Dias Gomes e Jorge Amado mais recentemente. Afinal, com qual segmento de atuação os habitantes da “torre de marfim” se ocupam? Um papel elementar dessa instituição seria incentivar a leitura, o barateamento dos livros, que até em sebos ostentam preços exorbitantes! Isso não acontece. Por que um cirurgião plástico se importaria com um tema tão menor, tão insignificante frente à leitura diária do seu alentado extrato bancário? Outras questões pessoais também devem ser atendidas pela ordem, como as hemorróidas de fulano, a osteoporose de cicrano, a flatulência de beltrano... ah, já sei! Como sou ignorante! O chá! “Do you want to drink tea with me this afternoon?” É isso! O chazinho é o que há de mais urgente a se resolver... o assunto do dia, aquela fofoca, aquele estilo inglês de ser... pra que se preocupar? Afinal, não é o Brasil um país de leitores assíduos? Não é o Brasil uma terra de gente culta, eclética, que nunca se curva diante das ideologias vindas d’além mar? Não é o Brasil ainda o jovem-velho país do futuro? Pra que se preocupar? Talvez eu não esteja enxergando muito bem, talvez ande um pouco afetado ou muito pessimista. Nas eleições para Prefeito em São Paulo eu podia escolher Marta, Maluf, Collor, Enéas... a Academia poderá escolher Jô Soares, Paulo Coelho, Zélia Gatai... talvez a Adriane Galisteu com o seu clássico O Caminho das Borboletas... De fato, não sei por que motivo ando tão pessimista!