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Artigos-->O DIA DA NOSSA CONSCIÊNCIA -- 25/11/2003 - 22:09 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O DIA DA NOSSA CONSCIÊNCIA



Francisco Miguel de Moura*





Comemorou-se recentemente o “Dia da Consciência Negra”. Tal data coincide com o dia da morte de Zumbi, a 20 de novembro de 1695, rei da República de Palmares, o quilombo mais famoso do Brasil, que durante quase um século existiu como uma nação independente dentro do Brasil Colônia, e era formada por negros foragidos dos engenhos e dos maus tratos e torturas dos seus senhores. Mas em Palmares não havia só negros foragidos; outros elementos como desempregados, mulatos etc. se agregaram a eles. Décio Freitas, na Folha de São Paulo, 20.11.1981, registra que “o mulato Antônio Soares, do qual se sabe que nascera em Recife e fugira para Palmares, onde granjeara a confiança de Zumbi, converteu-se em um dos seus lugar-tenentes.”

Estranhando a comemoração, algumas crianças de determinada escola perguntaram ao Prof. Francis Musa Buakari, da UFPI, por que o “Dia da Consciência Negra”, e ele respondeu que “todo dia é dia dos brancos”, portanto, não haveria necessidade de um dia dos brancos, como há o dos índios e o dos negros.

Respondeu bem e acrescentou, conforme artigo no “Diário do Povo”, de 20 de novembro deste ano: “O Dia da Consciência Negra é de fato um dia muito especial porque temos a oportunidade para comemorar a nossa diversidade. A nossa característica nacional de ser um povo transplantado, misturado, moreno, quase-preto, amarelo, quase-branco, quase-de-tudo – mas todos brasileiros.”

Essa raça brasileira mais ou menos homogênea, morena, pregada pelos sociólogos e antropólogos, virá ninguém sabe quando, mas somente quando a DEMOCRACIA SOCIAL houver avançado, ou seja, a repartição da riqueza do Brasil. Um fato recente, que muito contribuirá para que a equidade e a justiça se estabeleçam em nossa pátria, foi a ascensão do PT ao poder, embora limitado por alianças nem sempre desejadas. Se essa ascensão do Partido dos Trabalhadores durar mais períodos governamentais que o atual, certamente, contribuirá para que o caldeamento da raça prossiga mais aceleradamente. Pois que, com sua acessão social – e uma grande massa de negros e negras é petista – a tendência é o cruzamento sem fronteiras, sem preconceitos, sem exclusão disto ou daquilo.

Colhi apoio à idéia de caldeamento do brasileiro, no livro “Brasil Ano 2000”, de José Itamar de Freitas, quando se esteia em depoimentos dos eminentes sociólogos como Otávio Ianni e Florestan Fernandes. Diz Freitas: “Os pesquisadores prevêem que a rapidez na formação do brasileiro do futuro, depende da rapidez com que se verificar a eliminação das barreiras sociais e econômicas que bloqueiam a liberdade de cruzamentos entre as raças. Se, por acaso, ocorrer uma mudança nas relações de produção, que fazem com que 82% de brancos e apenas 15% de negros e mulatos sejam empregadores, no conjunto da população brasileira ativa (Censo IBGE, 1950), cientistas como Otávio Ianni, da Universidade de São Paulo, afirmam que, aí então, haverá um extraordinário estímulo à miscigenação.”

Concordando plenamente com esse raciocínio, endossado como já dissemos por outros sociólogos e por geneticistas de renome, auguramos que a miscigenação se dê no sentido de “amorenamento” do brasileiro e não do seu “embraquecimento” ou “amarelação”, por ser esta a tendência natural de nossa formação. E ai, então, o Dia da Consciência Negra se tornará no Dia da Consciência Brasileira, plenamente.



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*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina

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