Eu sei muitas coisas que não sei como fiquei sabendo; mas acho ser isso normal a todas as pessoas. Acredito que muitas coisas me foram ditas; outras encontrei em livros e me esqueci de quais foram as fontes; outras podem ser sonhos, fantasias, ou outras fontes ainda não bem conhecidas. O certo é que tenho lembranças anteriores ao meu nascimento, que não sei se são verdadeiras ou falsas.
Mormente agora, após ter sofrido meningite, quando não tenho muita noção do tempo e retenho pouco do que ouço e vejo, meus conhecimentos me parecem menos documentáveis do que antes, e fica mais difícil eu saber se o que sei é verdade ou mentira.
Embora minha dificuldade se relacione quase exclusivamente ao pós-menigite, sinto que tenho perdido uma parte das lembranças anteriores também. Entretanto, não perdi memória de fato anterior ao meu nascimento, coisas que conta com três possíveis explicações: reencarnação, memória genética ou memória falsa.
Entre as memórias de antes da vida, ainda tenho com certa nitidez a do meu irmão expulsando um gado do vizinho que estava no meio do nosso cafezal. Quando certo dia eu fiz menção ao fato, ainda na infância, minha mãe me disse que isso ocorrera bem antes de eu nascer, o que me deixou um tanto envergonhado, sem condições de dizer nada, uma vez que estava passando por mentiroso, coisa que nunca queria ser. Mas eu tinha certeza de ter presenciado o fato, embora essa certeza doravante se transformasse em dúvida até quanto a outras coisas de que julgava ter conhecimento.
Seguem abaixo as três explicações hoje existentes:
1. Para os espíritas, essa minha lembrança se deve à tal “REENCARNAÇÃO”.
Para eles, a última pessoa que foi encarnada pelo meu espírito antes de mim estaria naquele momento assistindo ao que o meu irmão fazia.
Eu não acredito em reencarnação, uma vez que não acredito existir o tal espírito imaterial, como expus em A ALMA OU ESPÍRITO.
2. para alguns cientistas estudiosos dos mistérios da mente, é possível existir uma “MEMÓRIA GENÉTICA”.
Do ponto de vista desses estudiosos, o meu pai estava olhando o meu irmão expulsar o gado, e essa lembrança se incorporou naquele feliz e esperto espermatozóide que, no final de novembro de 1957, deixou toda a equipe espermática para trás e se enfiou em um óvulo da minha mãe.
Eu não descarto essa possibilidade aventada pelos cientistas, embora eles ainda não tenham certeza sobre a existência dessa memória genética.
3. É certo que em nosso cérebro há muitas “MEMÓRIAS FALSAS”.
Assisti um dia, parece-me que foi no Fantástico, a uma experiência muito interessante:
Estudiosos da memória juntaram fotografias de muitos eventos conjugadas com montagens que davam a aparência de realidade e apresentaram para as pessoas envolvidas, perguntando a elas se se lembravam daqueles momentos em que foram fotografadas ou filmadas.
Ao lado das lembranças verdadeiras apresentadas, várias pessoas lembraram dos momentos retratados pelas montagens criadas para enganá-las. Isso prova que nem tudo que lembramos é real.
Essa terceira explicação é perfeitamente encaixável à minha lembrança do meu irmão expulsando o gado do cafezal. Eu posso ter ouvido um relato bastante instigante das cacetadas que meu intrépido irmão desferia contra um touro muito temível que fazia parte do referido gado, e, estimulada pela admiração que eu tinha pela coragem do meu irmão, minha mente infantil pode ter traduzido a memória auditiva para uma memória visual.
Com essa explicação tão plausível, corroborada pela experiência científica, eu poderia até dar por encerrada a questão. Todavia, levando em consideração alguns outros relatos que já ouvi, acho muito provável existir a referida “MEMÓRIA GENÉTICA”, descartando a ideai de reencarnação, que, para mim, não passa de equívoco do homem primitivo passado de geração a geração. Ver Anticristo em EXPERIÊNCIAS FORA DO CORPO, UM EQUÍVOCO PRIMITIVO.
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