O recente acordo do governo Lula com o FMI prevê um empréstimo de 14 bilhões de dólares para 2004. É o primeiro acordo do PT com o FMI e por isso mesmo merece um maior destaque na imprensa. Vale dizer que os discursos inflamados de Lula sobre o FMI, tempor atrás, eram pura balela. Acabou apelando para os braços de Orfeu, onde vai dormir o sono dos justos, enquanto nosoutros, povo, sofreremos as conseqüências funestas de nascermos e morrermos devendo aos estrangeiros.
Um ano de governo, tomando medidas drásticas para a decolagem do crescimento da economia brasileira, já teria algum resultado positivo, por menor que fosse. Porém, chega-se ao fial do ano, assumindo mais dívidas com o FMI como se fôssemos um país em derrocada econômica precipício abaixo. Se está tudo bem, para quê o empréstimo? O FMI, já dizia um poeta nordestino, nada mais é do que as letras da palavra FIM, invertidas. FIM de tudo. FIM do Brasil. FIM dos brasileiros. O único modo de se chegar ao FIM é pedir empréstimos ao FMI!.
Outra questão que vai deixar o PT afogado em seu nervosismo político é a reabertura das investigações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O mais nervoso tem sido o presidente do partido José Genoíno. Este suposto "esquerdista" foi no passado guerrilheiro no Araguaia. Preso e torturado voltou das sombras da morte, num tempo em que quase ninguém conseguia sobreviver aos massacres da repressão, porque era uma questão de honra salvar os companheiros e não dedurá-los. José Genoíno estranhamente voltou e hoje pertence à cúpula petista.
Além de ficarmos devendo para os americanos, através do FMI (FIM), sofreremos as agruras da estagnação, porque o nosso PIB ainda é irrisório e não consegue deslanchar. Neste fim de ano de 2003, por exemplo, o povo resolveu consumir menos, não por amor ao sacrifício, mas porque os salários estão defasados e ninguém ousa corrigi-los. Quem assim o fizer romperá as bases do capitalismo escorchante e se sentirá como um traidor, diante das elites e de seu próprio bolso. Novamente a vantagem fica com os chamados servidores públicos, os quais na área da saúde deixam muito a desejar. Os salários desse pessoal não é ruim e bem por isso esnobam suas fantasias em belos carrões pelas ruas, sem medo de ser felizes, ou de sofrerem violento assalto.
A verdade é que a política econômica do presidente Lula tem se revelado desastrosa. Apesar disso alguns empresários, nos setores que existem "boons", ou bolhas de crescimento, estão eufóricos e acreditam no novo governo, que já não é tão novo assim. No entanto, tais empresários não colaboram com esse governo, gerando mais empregos, ou pelo menos concedendo aumentos nos salários de seus empregados, já que a defasagem salta ao olhos. É a velha tática egocentrista: "se está tudo bem para mim, o resto que se dane". Mais dias, menos dias a economia funcional do governo vai alcançar esses tais ineficiente empresários.
Em recente artigo na "Folha de São São Paulo" um petista anunciava o seu desligamento do partido de Lula. Não teria tanta importância assim, se esse petista não fosse o conhecido sociólogo Chico de Oliveira. Com ferozes críticas ao PT e Lula, ele finalizou dizendo que "não votou em Lula para vê-lo executando o terceiro mandato de FHC". Várias personalidades de peso abandonaram o partido de Lula e várias outras foram expulsas do partido. Isso cheira ao expurgo político e a conscientização de filiados feridos em seus brios e desiludidos de um partido político, que prometeu o céu e apresentou o inferno.
Enquanto o presidente Lula faz marcketing político, dizendo que "o tempo das incertezas já passou", o IBGE afirma que "o salário caiu e o desemprego cresce na indústria". Os números do IBGE desmentem o presidente, o qual parece viver o sonho encantado do poder, subindo à cabeça e imaginando o absurdo. E não é apenas o Lula. Todos que adentraram o palácio do Planalto se transformaram radicalmente, como se transpusesse um portal mágico, onde a verdade não tivesse acesso. Os funcionários do IBGE deveriam se preocupar mais com seus próprios empregos, porque penso que isto já deva ser a preocupação dos caciques petistas.
Jamais iremos viver a felicidade do primeiro mundo, enquanto a força-trabalho for mal remunerada; e também enquanto a corrupção não for exterminada. Nossos empresários não acreditam que, aumentando os salários dos trabalhadores, o dinheiro regressa aos bolsos deles com maior rapidez. E a cultura da corrupão faz de nós, os honestos, pessoas programadas para a pobreza, porque se os corruptos obtêm sucesso, para que serve afinal a honestidade? Mesmo que alguém obtenha o sucesso através do dificil caminho da honestidade, vai sempre ficar uma percepção pública de que "fulano leva vantagem porque roubou".
Este é infelizmente, porém merecidamente o "Brasil de hoje".