-O articulista enviou o artigo abaixo para o Jornal, porém a informação errada sobre D. ANA PAES DE CASA FORTE não foi retificada.-
O Jornal do Commercio de sábado último, dia 23 de agosto de 2003, na seção " Em Dia " do Caderno C, noticiou a exposição que acontece no Shopping-Plaza, acerca do bairro de Casa Forte.
Na reportagem, Ana Paes - dona do engenho Casa-Forte - é referida como tendo lutado " contra a invasão dos holandeses no período colonial ". Nesse particular merece ser feito um pequeno reparo à reportagem. Com efeito, a dona do engenho Casa-Forte, após perder o marido, capitão Pedro Correia, que morreu defendendo o forte São Jorge contra os invasores batavos, não hesitou em casar mais duas vezes e ambas com holandeses: a primeira com o capitão Charles Tourlon e a segunda, morto Tourlon, com Gisbert de Whit, que era membro do Conselho Político.
A respeito desses casamentos com holandeses, o Frei Manoel Calado, testemunha dos fatos acontecidos à época, e autor do livro " O Valoroso Lucideno ou Triunfo da Liberdade" registrou no seu livro estas observações, referindo-se à D. Ana Paes: " aceitando a religião calvinista do novo marido com escândalo, horror e vergonha das gentes da terra ", e que D. Ana era " a mais desenvolta mulher de quantas houve no tempo desse cativeiro na capitania de Pernambuco" - obra citada, vol. 1, p. 125 -.
Ademais, seu último marido, de Whit, informando ao Alto Conselho que iria casar-se com D. Ana, fê-lo afirmando que " a sua futura esposa já no tempo do seu anterior casamento, tinha demonstrado ser mais favoravel à nossa nação do que aos portugueses " - Tempo dos Flamengos, p. 142, 2ª edição, do Prof. José Antônio Gonsalves de Mello -.
Não bastasse isso, o mestre Gonsalves de Mello transcreve no seu " Tempo dos Flamengos", trechos de uma carta de D. Ana a Maurício de Nassau, na qual a Sra. De Casa-Forte oferece ao conde " seys caixas de asuquere branco" em retribuição a " tantas onras e merces " que tem recebido, e finaliza pedindo que Deus " aumente a vida e estado de vossa ecelencya, para amparo de suas cativas" , declarando-se ela própria " de sua ecelencya a muito obidiente cativa Ana Paes " . - opus cit. P. 142 -.
Assim, apesar do respeito e admiração que nos merece D. Ana Paes, por ter tido a coragem de assumir difíceis opções na sua vida pessoal, religiosa e política, numa época em que a mulher vivia confinada à vida doméstica e sem voz ativa para assuntos outros, absolutamente ela não lutou contra os holandeses que invadiram Pernambuco em 1630.