O que deve fazer um presidente africano quando seu país atravessa um período de seca prolongada, a maioria da população está na miséria e a eleição precisou ser roubada nas urnas? Robert Mugabe, líder do Zimbábue desde a independência do país, safou-se com a medida mais populista que tinha à mão: uma guerra contra minoria branca. No começo do mês, venceu o prazo dado para cerca de 4 000 fazendeiros brancos abandonarem suas terras, que o presidente promete distribuir entre negros. Mugabe, diz que está apenas devolvendo aos negros as terras que foram de seus ancestrais. O que está fazendo, na prática, é provocar uma nova crise de fome na África.
As fazendas dos brancos são a principal atividade produtiva do Zimbábue. Os negros alistados para receber os lotes nas terras roubadas dos brancos, são incompetentes e não têm nem uma experiência agrícola. E por causa desse fato nos últimos dois anos, a produção de cereais caiu 70%. Cerca de 6 milhões de negros, metade da população, dependerão de ajuda humanitária internacional para comer até o fim do ano. Mugabe começou a perseguir os fazendeiros brancos em 2000, com invasões de terras promovidas por seus partidários. Onze fazendeiros foram assassinados, e 2 milhões de negros, perderam seu sustento. Muitos dos brancos foram espancados e torturados. Em junho de 2002, o governo proibiu os brancos de plantar e avisou que o prazo para abandonarem as propriedades era agosto. De cada 10, 6 brancos decidiram resistir a selvageria negra. Os que tentam sair levando seus pertences nas últimas semanas se deram mal. Muitos policiais negros roubaram o que puderam carregar em bloqueios nas estradas. Aos que permaneceram em suas terras, o governo avisou que a pena é de 2 anos de prisão. Na semana passada, pelo menos 15 brancos foram presos apenas por não querer abandonar seus lares.
O ódio de Mugabe aos brancos se deve, em parte, ao apoio econômico que estes davam a oposição, que só não ganhou as eleições de março por causa de fraudes descaradas. No passado, quando havia uma seca prolongada como a que castiga o país, os brancos eram os únicos que garantiam a safra. A expulsão deles deverá deixar um rombo de 12,2 bilhões de dólares para bancos locais e estrangeiros. Tudo isso num país que tem renda per capita equivalente à metade da renda da Bolívia e onde 1 quarto da população negra adulta tem o vírus HIV.