Adormecida, dentro do vidro, a cobrinha hibernava. De repente, alguma nesga de sol despertou-a. Mas ela "rabiava".
Interessante... Quando criança, eu morava numa pequena fazenda, de meus avós. Lá, aprendi a conviver harmoniosamente com os empregados, que me tratavam com um carinho especial, apesar de ser eu uma "pestinha irrequieta". E os bichos fascinavam-me, quase consegui comunicar-me com eles por telepatia. Adorava todos!
Mas, as cobras... Essas sempre me causaram certa repugnância. Não por serem feias. Não... É que eu notava nelas um certo comportamento "traiçoeiro" e, para ser sincera, não gosto de seres que vivem por aí, arrastando-se.
Creio que, na mente milimétrica que possuem, elas até façam alguma força para levantar-se à altura de outros animais, de porte mais nobre. Mas, tadinhas!!! Por mais que tentem, nada conseguem, a não ser arrastar-se mais ainda. Qualquer dia, caem em areias movediças e "globts"... serão engolidas.
A minha cobrinha do vidro, não.
É diferente. Indefesa, está sempre a pular. Mas é burrinha! Não percebe que dessa forma "embaça" o vidro e não pode enxergar o lado de fora. Deixa de ver o meu rosto, meu sorriso e as gracinhas que eu poderia fazer-lhe.
Tadinha... Morro de pena. Nasceu cobra e não tem culpa disso. Às vezes, quando tiro a rolha da garrafinha, ela tenta alcançar o meu dedo com seu ferrão medíocre. E à medida que eu mexo com o dedo, mais ela se estica.
Tenho pena. Creio que sente saudades de um pouco de terra. Deve ser quente, dentro do vidro... Mas, se abro, ela se apavora e não sabe como agir.
Não tentarei mais. Está mesmo fadada a morrer dentro daquele vidro.
Viche!!! Como ela se enrosca... e se estica...
e se enrosca... e se estica... e se enrosca toda...