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Artigos-->PT: estrela cadente -- 01/03/2004 - 10:03 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTRELA CADENTE, DESEMPREGO CRESCENTE E INFLAÇÃO LATENTE



Ubiratã Jorge Iorio (*)



“Quando vim da materna sepultura

De novo ao mundo, logo me fizeram

Estrelas infelizes obrigado;

Com ter livre alvedrio, mo não deram,

Que eu conheci mil vezes na ventura /

O melhor, e o pior segui, forçado.”

CAMÕES, Canções



Custou, mas aconteceu. É possível iludir a muitos durante muito tempo, é factível enganar as massas por anos a fio e é exeqüível ludibriar quem não tem o hábito de pensar por períodos consideráveis, desde que se esteja na oposição. Mas é absolutamente impossível manter por mais de alguns meses a máscara ilídima da hipocrisia e da incompetência, quando se senta nas cadeiras estofadas do poder. O saudoso Roberto Campos, em seus tempos de senador, costumava dizer que o PT era o partido dos trabalhadores que não trabalhavam, dos estudantes que não estudavam e dos intelectuais que não pensavam; agora, depois de apenas quatorze meses no poder, podemos afirmar que o PT já deu provas cabais de ser, também, o partido dos governantes que não governam...



Este caso do senhor Waldomiro, aquele homem probo que cobra “apenas”1% de comissão, de estrita e absoluta confiança do ministro-chefe da Casa Civil, constatação federal das ligações do PT com o jogo do bicho e os bingos que, em nível estadual, todo o Rio Grande do Sul já conhecia há anos, desde que o ex-governador e atual ministro das “cidades” - aquele bigode com um homem chamado Olívio escondido por trás - foi apenas a gota d’água necessária e suficiente para molhar e desmanchar a máscara de papel maché envergada por vinte e quatro anos, a fantasia de partido do bem, o disfarce da preocupação com os pobres, o escabeche da ética e os paetês da conduta reta e ilibada. Como diz uma belíssima canção napolitana de 1930 - Dicitencello Vuje, de Fusco e Falvo –, cantada por todas as grandes vozes da Itália desde então, “levammece ‘sta maschera / Dicimmo ‘a verità!”, é tempo de tirar a máscara e de dizer a verdade. No caso da canzonetta, a verdade revelada é que o compositor declara o seu amor por sua musa, mas, no do eleitorado brasileiro, a realidade exposta é que é tempo de dizer que se descobriu a.perfídia, a arrogância e a estultice do pessoal da estrela vermelha: perfídia, porque o PT, contrariamente ao que o senhor Duda Mendonça levou os incautos a crerem, não tinha e não tem qualquer idéia de como governar sequer uma escola de samba, quanto mais um programa para governar um país complexo como o Brasil; arrogância, porque sempre se considerou o dono de todas as verdades, em todos os assuntos e estultice porque seus quadros, sendo inteiramente despreparados e sem o mínimo cacoete de como administrar um botequim pé-sujo, sempre tentaram levar-nos a crer que seriam mais capazes do que os realmente capazes, mas que não pertencem à sua seita.



Do triste episódio Waldomiro em diante, a opinião pública passará a ver o partido que sempre se arvorou em guardião da correção moral com a mesma e justa desconfiança com que vê as condutas éticas dos demais partidos, o que é bom para uma sociedade livre e aberta. E quanto mais fatos novos tentar gerar para apagar o escândalo, quanto mais tramóias políticas procurar arquitetar - sob o manto interesseiro do ex-presidente Sarney e de outras tristes figuras - para impedir a CPI clamada pelo povo, mais os barbudos estrelados irão afundar a sua agremiação na areia movediça fabricada por eles próprios, com a sua arrogante incompetência.



No plano econômico, o PIB encolheu 0,2% no primeiro ano do governo petista, apesar de, no último trimestre, a economia ter ensaiado uma tentativa, fugaz e sem forças, de recuperação, ainda sob o fogo de artifício das taxas Selic em queda e sem desconfiar que poderiam surgir escândalos de impacto maior do que os protagonizados, por exemplo, pela senhora Benedita da Silva com aquela sua viagem a Buenos Aires custeada pelos contribuintes. Mas, para quem anunciou um espetáculo de crescimento digno de um Maracanã lotado, o que se viu foi um joguinho de segunda categoria, em um campo de várzea, com meia dúzia de gatos pingados nas arquibancadas. E – ironia das ironias! – os setores que impediram que o desastre fosse mais retumbante foram justamente a agropecuária, com crescimento de 5% e as exportações, que subiram 14,2%, resultados sem dúvida muito bons para o país, mas, no mínimo, desmoralizantes para um partido que só sabia falar em “reforma agrária” e cujos economistas jamais foram adeptos da abertura comercial...



De outra parte, o tigre da inflação vem dando sinais de que está novamente faminto e pronto a devorar as vítimas de sempre, o que tem levado o Copom a adotar a postura correta de ajustar a taxa de juros às novas expectativas de inflação, sob intenso bombardeio de economistas despreparados, de empresários mal acostumados, de jornalistas desinformados e de políticos defasados.



Em suma, até aqui, o governo do PT não disse a que veio! Se a política econômica – entenda-se como tal a política monetária – vem seguindo o rumo correto, o mérito não é de nenhum economista do partido, nem tampouco do dr. Palocci, que não tem conhecimentos sólidos do assunto, mas de um banqueiro (o mais odiado dos espécimes no infantil imaginário petista) posto no Banco Central e de dois economistas para lá de ortodoxos, Marcos Lisboa, na Fazenda e Joaquim Levy, no Tesouro Nacional, ambos com doutorados obtidos nos Estados Unidos. O único mérito de Palocci é o de confiar neles e defendê-los contra as tentativas de novas feitiçarias heterodoxas e de bruxarias políticas irresponsáveis de elementos mais radicais dentro e fora do partido. Quando alguém diz algo como “precisamos mudar esta política econômica que está aí”, ou “precisamos ousar mais na economia”, o que temos a fazer é perguntar como seria, em todos os seus pormenores, a efetiva mudança, bem como lembrar que, se o negócio é ousar, os homens bombas e os suicidas em geral são bem mais ousados, só que o prêmio à sua ousadia é a própria vida.



Se o governo, para abafar a crise política, resolver trocar a política monetária, precipitará o desastre, pois baixar a taxa de juros agora, controlar câmbio e capitais, além de expandir ainda mais um regime fiscal para lá de deficitário, só irá precipitar a inflação, provocar fugas de capitais e criar uma crise cambial sem precedentes, sem sequer atacar o problema do desemprego. Não se pode dizer do presidente argentino, Nestor Kirchner, que não seja ousado, mas pode-se afirmar que é um populista inconseqüente. O tempo demonstrará isto, muito mais depressa do que pensam os que hoje o aplaudem, sempre afeitos a bravatas, muitos dos quais já aplaudiam as moratórias tão prejudiciais ao país praticadas por Funaro, Bresser, Maílson e por aquela senhora que nos seqüestrou os ativos monetários em 1990...



Se o governo não trocar a política monetária, mas continuar mantendo a inchação do setor público que vem promovendo, bem como a criminosa carga tributária, vamos continuar andando para trás por um bom tempo e a implosão demorará mais, mas não deixará de ocorrer.



Só não podemos aceitar que se diga que o governo Lula moveu-se para a direita, ou que é um governo “neoliberal”. Que liberalismo cria, apenas em um ano, em um estado já paquidérmico, mais de 40.000 vagas no serviço público e quase 3.000 novos cargos gratificados? Que liberalismo suga 40% de impostos de quem trabalha e produz? Que liberalismo governa com medidas provisórias? Que liberalismo acredita que o somatório das pobrezas (Brasil, Argentina, Venezuela, Índia, Líbia, Cuba e outros países) é sinal líquido e certo de riqueza? Que liberalismo propõe estatizar as universidades privadas? Que liberalismo ainda cria, em pleno século XXI, novas estatais? O PT sempre foi um partido de esquerda, ainda é um partido de esquerda e vai continuar, durante muito tempo, a ser um partido de esquerda. A tal “sociedade com justiça social” de que tanto falam seus membros nada mais é do que um nome diferente, escamoteado, para o velho monstro senil e caquético do socialismo!



Cai a estrela, sobem o desemprego e a inflação. Cai a esperança, sobem a frustração e o sentimento de que o eleitor brasileiro foi vítima, em 2002, do maior estelionato eleitoral jamais praticado – para falarmos como o presidente – “neste país”!





(*) Professor de Economia da UFRJ











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