Este manifesto era para ser distribuído durante o Festival de Cinema de Brasília. Por razões obscuras isto não aconteceu...
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HOJE NÃO TEM CINEMA
Cadê? Onde se amoitou o cinema brasileiro? Nem novo nem velho – um fiasco. Onde se amoitou a arte do cinema? All right! Americanizou-se?! Ou, isto é igual aquilo: virou a novela da Globo. Parabéns a mediocridade apocalíptica. Tudo é televisivo. Amarelou feito Ronaldinho: bem que avisei: botou a bunda em Caras dá nisso: morreu.
Cadê o cinema brasileiro?
O novo cinema já viu Vidas Secas, conhece Humberto Mauro, Memórias de cárcere, Hora da estrela, o Baile perfumado? Ou permance provocando raiva como em Um copo de cólera? O que é isso companheiro, fazer filme para agradar o patrão norte-americano que coisa mais horrível? Ou essa novela chamada Guerra de Canudos.
Não existe cinema brasileiro ou ele é apenas o telão da TV Globo? Plim-plim é o som da descarga do que estão fazendo.
Cinema feito em casa, a partir da novela das sete, e das oito ou das nove. Dá nisso: cineasta é tudo igual: ator é tudo igual. Aliás, que mistéiro é esse: ator de novela acha que é artista, acha que é ator. Explico então: ator de novela é uma instância inferior, ainda não é tor ou atriz, ator tem que passar pelo palco. Ou é menor. Ator de novela é feito dupla sertaneja: uma grande mentira que, de tão repetida, acaba se parecendo verdade.
A gente precisa de cinema com defeitos especiais. E com arte.
Então, agora que se inaugura o Festival de Cinema de Brasília, que os diretores, a mídia, os atores pensem. Usem os pés, usem a pele, o coração e as mentes. Mas, por favor, embora estejamos festejando a década da bunda, não utilizem seus glúteos para fazer cinema. Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro.
Mirem-se no exemplo do Dogma 95. Não no que ele é. Mas no que ele não é: o velho e barrigudo cinema americano. Cinema artesiano. Feito para rir, chorar, pensar – cinema-arte. Não é possível que não haja um – só unzinho – cioneasta brasileiro capaz de fazer algo diferente. Inventar um novo cinema.
É hora de resgastar o cinema-arte.
Abaixo o entretrenimento! Deixe isso com os ianquis. Eles sabem fazer isso muito bem. Não vamos chamar de cinema o que for produto industrial feito para enganar o trouxa, o besteirol da ocasião.
Em tempo o Oscar não é corrida de Fórmula 1. É somente uma espécie de supermercado de algo que eles chamam coincidentemente, de cinema. Vamos tratar como tal. Não é nenhuma virtude participar dessa festa medíocre e brega, com cartas marcadas, que acontece todo ano. Por isso Orfeu, um filmeco de quinta categoria, está no local certo. Vá e não volte mais!
Por fim, antes do fim do mundo, a mídia. A televisão, já disse o anjo Gabriel, é a marca do fim do mundo: a maior coleção de mediocridades que pode se juntar num espaço está lá. Há vida inteligente na TV? - questionam os ETs. Difícil justificar a ausência.
Depois a imprensa escrita. Os cadernos de Cultura continuam festejando Marliyn Monroe e reproduzindo a entrevista que aquele galã fabricado de roliúdi manda para nós. Ficamos sabendo antes, bem antes, do filme bosta que ele está fazendo. Mas e o restante do mundo? Ora, o mundo não existe. Cinema, na cabeça de certos editores, só acontece nas terras norte-americanos. O mapa-mundi da redação consiste nos estados Unidos em cima e o Brasil embaixo, comendo o que eles cagam.
Basta de entreguismos. Basta de desrespeito à arte. Se querem fazer cinema, que façam diferente da novela da Globo e dos fasti-fudis norte-americanos. Se é para o diretor botar a bunda em Caras, ou para mostrar a banheira Jacuzzi do atorzinho global, não precisam fazer cinema. Pega mal, sabe.