Quais parâmetros Paulo Coelho utiliza para se auto-afirmar que o que ele escreve tem qualidade? Quantidade, pelo que eu saiba, não é aspecto de mensuração qualitativa.
Qualquer indivíduo conseguiria vender livros escrevendo sobre assuntos polêmicos. Bastava apenas que uma pessoa expressiva e de renome soltasse alguns elogios. Foi o que aconteceu com Paulo Coelho. Bastou o ex-presidente norte americano Bill Clinton ser fotografado com seu livro em mão para as pessoas correrem às livrarias. Foi muito convencido, na época, dizendo que já eram para terem lido seu livro. O leitor é quem decide quando e como ler um livro.
Há uma certa coerência por parte de Paulo Coelho no tocante ao fascismo cultural no país. Os modernistas ainda trazem em seus feitos muitos traços parnasianos. Questões regionais, a problemática social, a miscigenação de raças etc. já foram demasiadamente discutidos. Por exemplo, para se conhecer a Bahia não precisa planejar rota turística. As linhas dos livros de Jorge Amado exprimem todo o aparato físico e psíquico-social do povo baiano. Mas o movimento modernista de 1922 tinha o propósito de artistas e escritores com intuito em quebrar paradigmas de uma linha de pensamento já esgotada. O problema é que não há nenhum movimento artístico e literário tangível, a priori, que justifique a posição de Paulo Coelho. Parece um desafeto do presidente brasileiro: “um trombone desafinado na orquestra”.
Os números de exemplares vendidos levam Paulo a crer que ele seja um ótimo escritor. Essa é uma de suas características: a autodeterminação. E de acordo com eles, leitores, as opiniões sobre sua obra não são nada confortáveis. Inexpressivo na intelectualidade literária, Coelho só consegue vender, e confunde mercado com qualidade.
Na vida de um escritor surgem inúmeras oportunidades. Os grandes nomes oxigenam a carreira ao aproveitá-las. A vaga ociosa deixada por Jorge Amado na Academia Brasileira de Letras é uma oportunidade nobre. O nome de Paulo Coelho foi cogitado a assumir a cadeira. Em meio a muitas críticas, o mago desistiu de concorrer com outros nomes de peso. Segundo ele, “foi um sinal”. As pessoas costumam ocupar cargos e funções quando têm competência e estão preparadas. Colecionaria em seu disco de ouro de carreira alguns arranhões irrecuperáveis e isso não seria uma boa idéia. Não existe sinal, é uma questão de auto-avaliação.
Ele considera o ponto de ligação entre seus livros a maneira direta e enxuta no tratamento com o leitor. A simplicidade do escritor Paulo Coelho é um tanto quanto paradoxal. A escritora Raquel de Queiroz disse que não conseguiu chegar a oitava página de um de seus livros. Preocupado com uma crítica de peso, declarou ter consultado e confirmou que todos começavam pela página 10. Na ciranda da auto-estima, ele preferiu não acreditar, disse ser uma possível brincadeira da Raquel. Ela, como leitora, põe abaixo a crença dele quando diz “eu sou um ótimo escritor”. Se ele é “uma pessoa absolutamente convencida” de que o que faz é bom, como explicar a indisposição de leitura de uma personalidade como Raquel de Queiroz?
No livro “O alquimista”, não há consistência na narrativa. Declara que todos nós temos uma lenda pessoal. Isso não é ser direto. Maquiou uma definição de maneira diferente. Lenda pessoal é justamente a nossa ambição - todos os objetivos que temos na vida. Critica o autor Hermann Hesse por deixar seu livro, Sidarta, inacabável. O mesmo acontece com o seu, O alquimista, onde o autor empurra o leitor para o mesmo ciclo vicioso: o itinerário do pastor de ovelhas. Sua história é um caminho elíptico que angaria ao pensável, mas retorna a mesma idéia concebida.
Na entrevista concedida à revista Veja (22/08/2001), na primeira pergunta da jornalista Thaís Oyama, o escritor responde que alguns de seus livros tratam de questões filosóficas. Porém, desconsidera tal prestígio quando não consegue – nem tenta – explicar o porquê chegou àquela afirmação ao dizer literalmente que somos nosso próprio Deus. Joga poucas palavras a fim de apimentar e atrair leitores desavisados. Isso não é filosofia. Desconhece-a completamente quando indaga por que Hermann Hesse termina seu livro com a seguinte frase: “tem que olhar o rio”. Se filósofo fosse, não admitiria uma pergunta dessa natureza.