Se eu pedisse para você, leitor, indicar um dos grandes nomes já vistos da crítica literária nacional, provavelmente não se lembrasse do nome de Sílvio Romero. A literatura verde e amarela olvidou impensadamente as obras desse grande escritor. Por que? A resposta requer um ótimo ensaio.
Nosso companheiro surgiu no início da segunda metade do século XIX impreterivelmente. Anos de Hegel, Augusto Comte e Marx. Atribuímos os estudos do pensamento dialético, do positivismo e do socialismo científico respectivamente. Tempos do florescer do cientificismo. Dentro desse contexto, Romero viu-se sob forte influência., seguindo a mesma linha de pensamento não apenas seu, mas de toda elite intelectual européia. Defendia ser a poesia popular de grande interesse à ciência, desde que esquecidos os moldes românticos. Vivido em berço da segunda Revolução Industrial, Romero jamais concordaria com a lapidação romântica. Esta, escrita de forma liberal, particular e individual, confronta com o método científico usado pelo sergipano.
Bom orador, de idéias progressistas e contra as oligarquias, seu bom relacionamento jornalístico-político-literário fez dele famoso. Grande arqui-rival de Machado de Assis, era marca registrada em suas obras, artigos e ensaios, quase sempre, a dura criticidade que ia desde causas jurídicas à obras de escritores literários famosos. Era de uma personalidade que teve incidentes com os argüidores de sua tese. Essa característica talvez se dê porque sempre foi homem político. Quando se conclamou um dos fundadores e membro da Academia Brasileira de Letras, já visava ser deputado federal. Fracassou. Mas, em segunda oportunidade, conseguiu realizar seu anseio. Até Benjamin Constant o nomeou para ser membro do Conselho de Instrução Superior.
No Brasil, felizmente, ele espaldou-se em outras circunstâncias mais específicas. Dou lá minhas razões. Para ele, não se concebia o resgate da poesia popular à romanesca. Éramos desprovidos de cancioneiros e romanceiros antigos. Precisávamos de história original, nacional, e o romantismo espaldava-se em idéias ligadas à Idade Média, período esse que, na cronologia, nossa história não desfrutou. “Deveriam ao menos procurar as leis de formação de nossa vida mental, a poesia popular revela o caráter dos povos”, afirmava ele. É o que se pode denominar de empreendedorismo literário para escritores nacionais contemporâneos.
Com uma visão aguçada de futuro, sugeriu em seus finais vívidos que escrevessem sobre temas dados por esquecidos pela literatura brasileira, pois, doravante, seriam condenados pela falta de documentos, como ele mesmo previa. Resta aos jovens, hoje, buscar esse legado.
Interessante na cronologia da vida e obra de Sílvio Romero, escrita por Hildon Rocha, foi ele, Sílvio, definindo o que seria o ideal do historiador, conclui: "o velho Melo Morais esteve longe de ser esse historiador que eu sonho para o meu país". E por aí vai, seguindo o rol das críticas literárias.
Merecidamente, o presidente Fernando Henrique Cardoso declarou ser 2001 o ano da Literatura Nacional. Em homenagem a quem? Claro, ontem e hoje Sílvio Romero!