“Um país se faz com homens e livros”, disse Monteiro Lobato, o criador da primeira editora de livros do Brasil. Homens nós temos, são cerca de 170 milhões. Livros, também. Só nos falta lançar esses dois sujeitos do progresso e da cultura, numa interação contínua de convívio, simpatia e ação. Mas como é raro encontrar-se alguém deste país a ler! Se calhar, os poucos que são realmente alfabetizados com todas as letras lêem os livros didáticos, por obrigação. Ninguém lê por gosto, para educar-se no expressar o pensamento e sentir a arte e a beleza da língua.
Brasil não é Europa, retrucam.
Porém, pergunto quem levaria um cão para a temporada de férias, na praia? De uma boa história, memória, crônica, romance, de um bom livro de poemas, ninguém prescinde: no ônibus ou na solidão do seu quarto.
Livro traz-nos à lembrança a biblioteca, onde se encontra a leitura de forma mais barata. A biblioteca é para o grosso da população, para os que não podem comprar livros. Por isto alegrei-me e me entristeci ao mesmo tempo quando li uma notinha no jornal, perdida entre outras. Conteúdo: o Ministério da Cultura quer implantar l,3 mil bibliotecas públicas, até 2006, cobrindo municípios que ainda não contam com uma unidade. O certo seria criar em cada município brasileiro a sua biblioteca pública. São cerca de 6 mil municípios. Deveria ser condição sine qua non para que uma comunidade se erigisse em município ter a sua biblioteca pública, assim como possui o mercado, o cemitério, a câmara de vereadores, o forum, a escola pública... A nota dava conta ainda que o Programa “Fome de Livro” – assim teve o batismo das autoridades – “foi apresentado publicamente pelo Ministro Gilberto Gil e deve ser lançado ainda neste semestre .”
Aplaudimos a idéia. Porém, precisa-se de muito mais: bom corpo de bibliotecárias, funcionários competentes, computadores, renovação do acervo com as melhores publicações que vão sendo editadas etc. tudo sob eficiente administração.
A nota que li tomava o espaço de 3 ou 4 linhas, em tipos miúdos. Pensei: deveria tal notícia ser estendida, com todos os detalhes do acontecimento e do programa, pelo espaço de no mínimo uma folha do jornal, para que fosse vista, lida, e produzisse efeito. Mas infelizmente a mídia, incluindo-se os jornais e as revistas, não colaborara eficientemente como nos países civilizados. A leitura gratuita, a imprensa, o rádio, a tevê devem ser bens públicos. Ao contrário, nossa imprensa é uma lástima; o rádio, a televisão a internet somente difundem a violência e a corrupção de menores (e também de adultos, principalmente os analfabetos, que são a maioria), através de filmes de guerra, de pancadaria e pornográficos, o que significa geração de mais violência, mais estupros, prostituição, assassinatos, suicídios, roubos, drogas e tudo mais que contribui para a miséria humana. Que futuro esperar dessa gente, sem escola, sem livros, sem...?
Concluímos, então que, depois do livro, é ainda o livro o melhor amigo do homem, e não o cachorro, “o livro esse audaz guerreiro, que conquista o mundo inteiro, sem nunca ter Waterloo”, como disse Castro Alves.
__________________
*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina.