Conduta do Samurai
O samurai deve basear sua conduta em um sentido de dever filial. Por mais que alguém tenha nascido capaz, inteligente, eloqüente e aplicado, não adianta nada se não for filial. Para o bushido, o caminho do guerreiro exige que a conduta seja correta em todos os sentidos, já que, se não existe discernimento em todos os assuntos, não haverá conhecimento do que é correto.
Quem ignora o que é correto, dificilmente pode chamar-se de samurai. No entanto, quem tem essa compreensão, dá-se conta de que seus pais são autores de seu ser e de que ele forma parte de sua carne e de seu sangue. E é disso que somos feitos, e é daí que surgem assuntos que nos conduzem a desprezar a própria origem materna e paterna. Isso é falta de discriminação da ordem da causa e do efeito.
*Foi então que Buda Pregando, disse:
Devotos do mundo inteiro ouvi-me:
Deveis muito a bondade do pai,
Deveis muito a compaixão da mãe.
Pois se o homem está neste mundo
Tem por causa o karma,
E por agente do karma os pais.
Não fosse pelo pai não nasceríeis,
Não fosse pela mãe não cresceríeis.
Eis porque
Da semente paterna recebeis o espírito,
Ao ventre materno deveis a forma.
E por causa dessa relação cármica,
Nada neste mundo se compara
Ao misericordioso amor de uma mãe:
A ela deveis eterna gratidão...
Então, para que se cumpram as obrigações filiais, existem duas categorias. A primeira acontece quando os pais têm uma atitude honrada e educam seus filhos com autêntica bondade, deixando-lhes todas as suas propriedades, incluindo uma renda acima da média, armas, equipamento para o cavalo, tudo o que é considerado valioso na casa, bem como tudo o que é necessário para um bom matrimônio. Quando os pais tem essa atitude, é mais do que normal que seus filhos cuidem e tratem deles com toda consideração possível.
Quando se trata de uma pessoa totalmente distante da família, se ela tem um vínculo de amizade íntima conosco e deixa o seu caminho para ajudar-nos, sentimo-nos dispostos a fazer qualquer coisa por ela, mesmo contrariando nossos interesses.
Quão mais profundo, pois, deve ser o vínculo de afeto quando se trata de nossos pais? Por mais que façamos por eles como filhos, sentimos que ainda que cumpramos muito bem nossas obrigações filiais, que nunca é tida em demasia. Mas, se os pais não são bondosos, e sim velhos cheios de caprichos, sempre se queixando e insistindo que sua propriedade (casa) pertence somente a eles, não dão nada a seus filhos e ainda mantêm uma qualidade de vida financeiramente baixa e pedem com impertinência bebida e comida. E cada vez que encontram alguém, fazem algum comentário do tipo: "O burro do meu filho não é filial e, por sua causa, tenho de suportar todo tipo de incômodos. Você não tem idéia do quanto eu sofro, agora que estou velho."
Alguns pais são muito rabugentos e, mesmo assim, temos de apaziguar seu mau temperamento, aliviar suas enfermidades por causa de sua velhice e apiedar-nos delas, tudo isso sem mostrar contrariedade. Esforçar-se ao máximo por pais assim é uma autêntica piedade filial. Um samurai que possui esse espírito, quando trabalha a serviço de um senhor, compreenderá totalmente o Caminho da Lealdade, demonstrando-a não somente quando o seu senhor está feliz e próspero, mas também quando vive um momento de adversidade; não o abandonará quando os seus cem cavalheiros se reduzirem a dez e estes dez a um, defendendo-o até o final, levando sua vida como se não valesse nada, somente para exercitar sua lealdade. Ainda que os termos "pais", "senhor", "conduta filial" e "lealdade" sejam distintos, não tem significados diferentes. Os antigos tinham um ditado que dizia: "Procure um vassalo leal entre as pessoas filiais", pois não é razoável pensar que um pessoa que não é filial com seus pais possa ser leal ao seu senhor. Se alguém é incapaz de cumprir seus deveres filiais com relação a seus pais, que lhe deram a vida, é muito improvável que ofereça um serviço leal ao seu senhor, que não é um parente, somente por gratidão. Quando um filho que não é filial trabalha para um senhor, criticará qualquer falha de seu amo e, quando este deixar de aprovar alguma coisa, ele renunciará à sua lealdade e irá abandoná-lo em um momento crítico, ou trairá seu senhor, indo para o lado inimigo. Existem exemplos dessa indigna conduta em todas as épocas, a qual deve ser evitada e detestada.
Texto de Daidoji Yuzan - Século XVI
* Trecho do sermão de Buda sobre o amor dos pais
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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites
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