"É a luta do bem contra o mal". Assim definiu o presidente americano a – também nos dizeres deste – "1ª guerra do século XXI".
O bem a que o presidente se refere está representado pelos países ocidentais, sobretudo pelos EUA, os quais, ungidos pelo ódio , confrontarão - se ao cruel inimigo Islâmico, que, liderado pelo "demônio de plantão" Osama Bin Laden, ousou profanar o "American way life" aos olhos do mundo.
Ótimo roteiro. Recheado por efeitos especiais, campanha maciça de marketing e com o Bruce Willis encabeçando o elenco, não tenho a menor dúvida quanto ao sucesso do filme nas bilheterias. O problema é que Hollywood está à margem dos acontecimentos. Os fatos são reais, e, ao contrário daquilo que prega o cinema americano, no mundo real não há lugar para maniqueísmos e generalizações. Analisemos, então, a delicada situação:
George Walker Bush foi claro ao dizer que os EUA não irão distinguir os terroristas daqueles que os apoiam. O recado serve para o Taliban, grupo fundamentalista islâmico que domina 95% do Afeganistão e abriga no país o agora famoso, mundialmente, Bin Laden.
Bush Jr não citou, porém, que os EUA apoiaram esse mesmo Taleban quando da invasão do Afeganistão pela URSS em 1979. O que houve Bush? Como os EUA, símbolo da democracia e liberdade, país que representa a verdadeira tradução do bem, pôde apoiar o mal? A expansão capitalista em detrimento ao outrora perigo comunista justifica armar e treinar terroristas ensandecidos? E já que tocamos no assunto, alimentar o ódio a seguidores de determinada religião, reservando a todos os seus adeptos o estereótipo de cruéis inimigos não remete muito mais à perseguição nazista aos judeus que a atos de países civilizados e democráticos?
É torpe a discriminação que o senso comum mundial está propagando nesses dias "pós-terror". Um exemplo corriqueiro, e por isso mesmo importante, surpreendeu-me hoje: enquanto esperava o ônibus que me traz ao trabalho todos os dias, iniciei uma conversa com o dono da banca de jornais próxima ao ponto. Sua opinião quanto aos atentados não poderia ser mais sumária: "esses muçulmanos são todos loucos, eles matam inocentes e ainda acham que vão para o céu". Dessa forma, nunca é demais lembrar que assassinos existem em todas as religiões. Judeus, Cristãos, Protestantes, Maoistas, Hindus, ateus, etc, são assassinos em potencial, porque assassino em potencial é o próprio ser humano. Os fatores que provocam tamanha distorção, capaz de fazer com que uma pessoa atente à vida de outra são ignorados e não obedecem a nenhuma distinção de cor, sexo ou crenças.
O fundamentalismo islâmico, herança do Aiatolá Khomeine e de sua revolução no Irã, também em 1979 - que ano hein, - tem no comprometimento entre Estado/Religião seu mais desastroso aspecto. Sempre que interpretações religiosas confundem-se com a constituição de um país, a intolerância assume proporções espantosas. Isso sim deve ser combatido, porém, o Islâmismo, com seus preceitos de oração e fraternidade, não pode ser tido por ideologia da barbárie.
Enfim, atos terroristas são condenáveis. A vida, de quem quer que seja, é preciosa e deve ser preservada em qualquer hipótese. Por isso mesmo, tomemos cuidado ao cunhar palavras como guerra, represarias ou vingança. O ódio não é o melhor conselheiro e não deve ser semeado.
**Durante a II Guerra Mundial a "Rainha Mãe", Elizabeth I, ignorou os conselhos da Segurança Real Inglesa e permaneceu no Palácio de Buckingham enquanto os nazistas bombardeavam impiedosamente a Inglaterra.
A população retira de atos como este, a força subjacente necessária em momentos culminantes da história. Isso posto, há tempo para mais uma pergunta, por qual motivo Bush demorou tanto a voltar para a Casa Branca?