Não há quem não tenha sido. Até entre os parentes e amigos sinceros, quanto mais pelos inimigos se os tiver. E muitos de nós não os temos declarados mas algumas pessoas se fazem inimigas, simplesmente pelo fato da admirar o que você faz. E principalmente quem se mostra (ainda que escrevendo) para um público. Os inimigos na maioria das vezes são movidos por um espírito baixo, e não compensa ficar falando deles aqui.
Entre os amigos, muitas vezes as críticas se tornam um costume torturador que por vezes angustia, e faz com que o criticado tenha reações das mais adversas. Lembrei-me de uma história que o filósofo Santo Agostinho conta de um extremo que também infelizmente experimentei em minha infância. Tanto a minha (infância) como a dele, foram marcadas por um fato curioso: Vivi entre pessoas ignorantes quando criança, e recebia castigos e surras que marcaram a minha vida física e psicologicamente. E também na escola, era castigado como todos os meus colegas, se deixava de fazer os trabalhos, ou não os fazia a contento. E eles eram abundantes e não poderiam ser feitos mesmo pelos que tivéssemos todo o tempo disponível para isso. Não era o meu caso, porque no outro período que não estava na escola, tinha que ajudar meu pai na olaria.
Mas o inferno da questão, é que chegava na escola, e era castigado por não fazer as lições, e a professora que era uma mestra na palmatória, ainda era vizinha de casa, e parecia sentir prazer em contar pra minha mãe a minha “malandragem”, ouvir depois o som das chibatadas nos meus lombos, acompanhados dos meus gritos de desespero aos de fúria da minha mãe. E para completar, todos em casa, inclusive os meus irmãos, criticavam e contavam pras visitas das surras que eu levara. Isso fazia com que além de ficar marcado dos castigos, ficasse também machucado de vergonha. Talvez seja essa a causa da minha tamanha timidez até hoje...
Nosso assunto não é a surra, mas a crítica... Ela é útil. Não como eu as recebi, porque marcaram negativamente a minha vida, e em alguns aspectos, será difícil superar.
Mas as críticas dos amigos, e admiradores podem ser úteis, embora elas não sejam muito freqüentes e nem muito cheias de qualidades no sentido de análise abalizada.
Mas as dos inimigos, que são as que mais desprezamos, não deveriam ser desprezadas. Gosto de guardar os ataques que recebo, por incrível que pareça. Não que eu seja um masoquista por espécie. Nem que eu goste um pouco sequer de recebê-las, mas tenho que confessar que muitas vezes me são úteis. Quando passa o calor da questão, o choque das palavras duras, vou lá, e separo o joio do trigo. Jogo fora o tom rancoroso, o xingamento indevido, a falta de amor que acompanha, e gosto de analisar o que há de bom. Por exemplo, já recebi algumas que diziam dos meus erros gramaticais. Tenho que cuidar disso, de fato, porque muitas vezes tenho publicado muita coisa sem revisão, simplesmente porque tenho preguiça de fazê-lo, e vou deixando para depois, até que me esqueço. Também tenho algo de hiper-ativo, que me faz ter novas idéias enquanto leio o que escrevi, e acabo fazendo uma tarefa em detrimento da outra.
Quem lê, não quer saber dos meus traumas, e tem toda a razão. A forma como faz a crítica, nem tanto. Tenho que ser sensível se as pessoas se aborrecem com o meu nome aparecendo muitas vezes, e saber que podem existir outras que não se manifestam, e que são a maioria. É a sensibilidade que eu porventura tenha para escrever, que deve ser convocada, para sentir que muitas pessoas vão ler justamente num momento de abalo emocional. Você pode dizer que não temos nada com isso, mas se pensar um pouco, admite que temos. Precisamos dos leitores como nossos aliados, e não como inimigos. E muitas vezes já respondi que “você tem razão” ou “desculpe o meu erro”, e mais tarde recebi outro recado de que a pessoa é um dos meus leitores constantes. Um e-mail dizendo “obrigado querida”, pode quebrar uma barreira que talvez nunca foi transposta no coração de uma leitora solitária que consulta os nossos escritos numa madrugada fria em que se sente só, mesmo estando acompanhada.
É claro que não estou falando dos críticos maldosos, ou os invejosos, que muitas vezes não tem coragem de admitir que você escreva alguma coisa que tenha proveito. Mas estou falando daqueles que criticam com um pouco de amor que muitas vezes está escondido em seu coração, e talvez ele nem saiba que tem, mas cabe a nós que temos um pouco de sensibilidade, fazer vir a deles à tona.