Adrião Neto tem uma inclinação natural para historiador, face ao seu talento para pesquisa e interpretação dos fatos históricos. O que já evidenciou em seus livros “Eterna Aliança”, “A Conquista do Maranhão” e “Geografia e História do Piauí para Estudantes – da Pré-História à Atualidade”. E torna a repetir, e com profundidade, com este “Raízes do Piauí” (romance histórico).
“Raízes do Piauí”, como o título enfatiza, são os primórdios, as origens do Piauí, então chamado de Piaguhy, de terras férteis, ocupadas por diversas tribos indígenas e que serviam de passagem entre Pernambuco e Maranhão. Terras cobiçadas pelos bandeirantes, aventureiros e, principalmente, pelos padres da Companhia de Jesus, que desejavam apropriar-se de todo o território. Não conseguiram, mas tentaram. E que Adrião Neto não poupa críticas sobre o comportamento dos mesmos, como também descarrega o verbo contra os bandeirantes Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Mafrense e Francisco Dias d’Ávila II, exterminadores cruéis dos gentios, que eram os verdadeiros donos da terra.
É dessa fase primitiva (1696 a 1791), que o livro se ocupa, quando o Piauí pertencia administrativamente ao Maranhão e, politicamente a Pernambuco e à Bahia. Tempos em que a terra era de todos. Menos, porém, de seus verdadeiros proprietários, os indígenas, os quais, a princípio, foram enxotados e, depois, barbaramente, aniquilados. Assim se foram os jaicós, crateús, anancês, tabajaras, alongazes, ananás, acaracús, anapurus-mirins, tremembés, pimenteiras, acroás e aranis. Como registra Adrião Neto, não ficou um para contar história daquele período. É verdade que o extermínio não foi pacífico. Houve reação, manifestada pelo valente Mandu Ladino, destacável personagem do livro, que liderou várias tribos e, por quase dezessete anos, infernizou a vida dos colonizadores.
O livro encerra-se com o Piauí transformado em capitania, com governador próprio. Mas antes, traz-nos a origem das lendas que nos chegaram até hoje, tais como: Gritador, Caipora, Moribeca, Carneiro de Ouro, Zabelê e Metara, Tesouro dos Padres, Castelo Encantado e Miridan. E também sobrenomes famosos, que tiveram significância na história do Piauí. Sem, contudo, deixar de registrar o romance da escrava Esperança Garcia com o padre Manoel Gonzaga.
“Raízes do Piauí”, enfim, é enriquecido pela interpretação dada por seu autor aos fatos históricos desse período rudimentar do território piauiense.
José Ribamar Garcia – Romancista, contista, cronista e jornalista.