Neste espaço tenho me abstido propositalmente de falar em política e políticos. Porém, todos sabem que somos um animal político e que política também é cultura. Por isto em plena sessão do Conselho de Cultura do Piauí, em 24 de junho de 2004, abri uma exceção e registrei a morte de Leonel Brizola, nesta semana, fato que abalou a nação consciente. Sua morte fecha um ciclo da política brasileira iniciado em Vargas: o social-trabalhismo. Conseqüentemente, abre novo ciclo: o da subserviência total ao capital estrangeiro, sob a alegação de que é preciso globalizar para sobreviver.
Destaco agora, no político e administrador Brizola, dois pontos. Primeiramente como Prefeito de Porto Alegre e como Governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, neste Estado por duas vezes, quando jamais praticou nenhum ato desonesto. Inclua-se também sua atuação de parlamentar. De origem humilde, não obstante tantos cargos e tanto tempo, morreu pobre. O segundo ponto é que Brizola foi, durante toda a sua vida, um democrata. Defendeu a Constituição quando da renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, e os militares e políticos de direita quiseram impedir a posse do Vice-Presidente João Goulart na Presidência da República, simplesmente porque estava fora do país. O historiador Florival Cáceres, em sua “História do Brasil”, resume que com “a renuncia de Jânio Quadros, o Brasil se dividiu em duas forças antagônicas”. Uma dessas correntes foi comandada pelo então governador gaúcho, que “formou a chamada Cadeia da Legalidade, uma rede de emissoras de rádio para defender a posse do Vice-Presidente. Ganhou também a adesão do Comandante do poderoso 3º Exército, o general Machado López. Brizola e o General planejaram a entrada de Goulart pelo Sul do país, onde seria proclamado Presidente” e, de fato, assim aconteceu.
As más línguas diziam que tudo o que Brizola fazia era para beneficiar o cunhado. Mas é verdade que essa relação de parentesco não consangüíneo de Brizola com Goulart nunca andou muito bem. A amizade entre os dois, se é que havia, não era estreita. Mesmo politicamente tinham estremecimentos. A verdade é que Brizola defendia a democracia e a legalidade com convicção.
Ele bem que gostaria de ter sido presidente. E qual o político que não pensa em ser Presidente da República? Polêmico, sim, reconhecidamente. Mas também unanimemente elogiado pelos seus adversários, embora tenham discordado de suas idéias em 90% ou mais. Populista, sim, mas daqueles que têm sinceridade, acreditam no que dizem nas campanhas e lutam para pôr em prática quando se elegem. Outro ponto foi seu trabalho em favor da educação, onde quer que estivesse com uma parcela de poder na mão. O povo brasileiro lhe é grato e por ele tinha muita estima. É de políticos da sua estofa que muito precisamos. Portanto, merece todas as homenagens.
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Francisco Miguel de Moura é membro do Conselho de Cultura, da Academia Piauiense de Letras e Presidente do PAN/Regional.