Eu vinha pensando: e se eu, de repente, não for o bom moço que tantos apregoam, o educado, o gentil, o manso, o paciente, enfim, aquela pessoa com tantas qualidades e tão poucos defeitos?
E se eu, na realidade, for egoista, egocentrista, inflexível, frio, capaz de cometer atrocidades?
Se as coisas que escrevo forem todas elas de aparência, da boca para fora, superficiais e que nunca, de verdade, representam o que mora no meu coração?
Pode ser que sim, poder ser que não.
Ouvia o CD do Lulu Santos: dei meia volta ao mundo levitando de tesão... a cama pronta, espera no portão...
E as frases se ajuntando na minha mente, aumentando o meu questionamento interior, a minha dúvida: afinal, o que é ser bom?
Há pessoas que só entendem a vida se houver desentendimento, querelas, resistências.
Se você aceitar passivamente é logo tido como fraco, covarde... e onde anda a prudência?
Mas, e se as forças dominantes apregoarem o comportamento calmo e tolerante para continuarem tirando vantagens?
E se isto, e se aquilo e, ainda por cima, aquiloutro.
A vida é feita de retalhos que a gente vai unindo e colecionando. Há retalhos coloridos, fortes, bem formados, enquanto outros são desbotados, pasteurizados, frágeis, desconjuntados...mas são todos componentes de um tecido sem homogeneidade que a gente vai chamando de personalidade.
E o mundo gira e gira e a gente nem sabe exatamente a que partido pertence, pois hoje é fogo, amanhã é água e noutro dia é céu, é ar, é terra ou nada.