É fato comum que o ambiente onde os profissionais de saúde atuam está-se tornando cada vez mais complexo e incerto devido à globalização das atividades e à rápida introdução de novas tecnologias. A maioria das decisões é tomada sem um completo conhecimento sobre o futuro do paciente, portanto busca-se inúmeros exames laboratoriais e similares, para se fundamentar diagnósticos. O médico é um profissional que lida com o risco, e com uma categoria de risco que desbanca qualquer outra profissão, o risco da vida humana. Como está se lidando com seres humanos, os algoritmos para a mitigação de risco não se aplicam a este caso.
Dentre inúmeras definições de risco pesquisadas encontramos a de VAUGHAN (1997) que melhor traduz as preocupações sobre administração do risco, a qual diz o seguinte: risco é uma condição na qual existe uma possibilidade de infortúnio, ou seja, um desvio adverso, comparado com um resultado desejado e associado a uma expectativa de esperança. Na mesma linha VESELY (1984) define o risco como sendo o perigo decorrente da probabilidade ou possibilidade da ocorrência de um infortúnio.
Todas as pessoas, individual ou coletivamente, correm riscos constantes, desde os que podem afetar sua integridade física até os que poderão prejudicar sua saúde ou as finanças. Segundo se constata, na prática há um sentimento generalizado e até mesmo muito primitivo, de que os riscos devem ser controlados e que, sob o enfoque de administração do risco, precisam ter uma correspondente cobertura no caso de sua ocorrência.
O cotidiano dos profissionais de saúde é repleto de ações, decisões e constantes pressões onde é gerado o stress que por sua vez será o gerador de supostas desorganizações biopsicosocialespiritual que podem passar desapercebidas no seu cotidiano.;
O trabalho do profissional de saúde está associado à assunção do risco, constantemente. No sistema atual de assistência à saúde os médicos desempenham um papel impar e decisivo nas equipes que se encarregam das tarefas de assistência aos pacientes em intermináveis jornadas de trabalho, em alguns casos sem a infraestrutura adequada e muitas vezes obrigado a “escolher” quem irá receber seus cuidados.. É o medico quem encaminha os pacientes para o hospital e os manda de volta para a casa, é ele quem solicita as análises e radiografias, quem recomenda uma cirurgia e receita medicamentos, lida dioturnamente com a dor, o sofrimento, a impotência, medo desesperança, desamparo, perdas de todos os tipos e tendo de se relacionar com pessoas frágeis, agressivas, inseguras, deprimidas, poliqueixosas. Além do paciente, o meio ambiente próximo do profissional de saúde, envolve os familiares que apresentam os mais diversos tipos de perturbações e angustias, os fatores econômicos e sociais que permeiam essa relação e a própria vida particular do profissional. A autoridade do médico e sua responsabilidade pela saúde do paciente fazem-no assumir um o papel paternal.
Junto a isto nossa sociedade já e um fator desencadeante de stress, a violência urbana, a competição, concorrência, a baixa qualidade de vida e outros tantos agentes anciógenos que estão cotidianamente na vida do ser humano.
Com todo estes fatores inibidores de um padrão adequado de qualidade de vida ou da própria saúde, os profissionais da área podem ser considerados estressados e segundo COHEN (1981) o stresss representa atualmente o maior fator de morbidade e mortalidade para o ser humano.
CAMON(1998) cita um pequeno, porem relevante, relatório apresentado pela OMS em 1992, tendo como estatística o suicídio por categoria profissional. Os profissionais da área de saúde apareciam em segundo lugar, perdendo apenas para jornalistas. Em 1997 a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro apontava que, no ano de 1996, 40% dos casos de suicídio na cidade do Rio de Janeiro foram de médicos. Além disso, um dos mais altos índices de dependências de analgésicos e barbitúricos encontra-se entre os profissionais de saúde, fato persistente e crescente (MODLLIN, 1964).
O stress não é função só da vida pessoal mas também do meio ambiente inseguro decorrente dos aspectos sociais e econômicos. A fonte de stress é múltipla pode se originar pela sociedade, pela nossa cultura ou pode estar presente no meio ambiente físico. As situações estressantes decorrem não apenas de traumas emocionais pessoais, ansiedades e frustrações, como também do meio ambiente inseguro criado por nosso sistema social e econômico. O estresse entretanto, não resulta somente de experiências negativas. Todos os eventos - positivos ou negativos, alegres ou tristes -que requerem que uma pessoa se adapte a mudanças rápidas e profundas são altamente estressantes (KAPRA; 2001).
Sempre é muito importante a reflexão. Mas, será que profissionais da área de saúde, que trabalham com urgências e emergências, têm tempo para reflexão do seu estado emocional, ou de como está instrumentalizado técnica física e psicologicamente? Talvez eles precisem privilegiar a ação e inibir a reflexão para atender a demanda.
A saúde, de acordo com Hipócrates, solicita um equilíbrio entre influências ambientais, modos de vida e vários componentes da natureza humana.
Evitar as questões filosóficas e existenciais que são suscitadas com relação a toda e qualquer enfermidade séria é um aspecto característico da medicina contemporânea. É uma outra consequência da divisão artesiana que levou os pesquisadores médicos a concentrarem-se exclusivamente nos aspectos físicos da saúde, o que leva a um tão limitado ponto de vista pois, desconsidera os sutis aspectos psicológicos da doença (KAPRA; 2001).
Os médicos muitas vezes não tem tempo para a auto reflexão de cuidados com a sua própria demanda por saúde psicológica. Só podem cuidar aqueles que estão bem cuidados.
Referência Bibliográficas
CAMIN, V. A. A. Urgências psicológicas no hospital. São Paulo. Pioneira Thomson, 2002. p. 211.
COHEN, F. Stress and voldily Ilness. In, Psch North América, 4:269, 1981.
KAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo. Cultrix, 22 Ed. 2001. p. 445.
MODLLIN, H. C. & Montes, A. narcotic addiction in physicians. In American Journal os Phychiatry, 121:358-65, 1994.
VAUGHAN, E. J. Risk management. New York: John Willey & Sons, 1997. p.812.
Vesely, W. E. Engineering risk analysis. In: Ricci, P. F.; Sagan, L. A.; Whipple, C. G. Technological risk assessment. Hinghan, (MA): Martinus Nijhoff Pub., 1984. (NATO ASI Series: 81).