É sempre bom lembrar que conselho e soviete são sinônimos. Talvez aí esteja a origem sectariamente atávica do impulso orgíaco do governo petista de querer fiscalizar todas as atividades da sociedade. Tencionam agora instituir, sob controle estatal, o soviete federal e os sovietes regionais de cultura audiovisual e de jornalismo, com o propósito amplo de policiar nossas opiniões, nossas idéias, nossas aspirações e, se puderem, o nosso pensamento.



Também pretendem obrigar todos os jornalistas a serem membros desses sovietes, sob pena de não poderem exercer a profissão. Essa arbitrariedade contraria a Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a qual estipula que a afiliação obrigatória a uma associação profissional e a exigência de títulos ou diplomas para o exercício da atividade jornalística constituem uma restrição ilegítima à liberdade de expressão . Além disso, é sempre uma violência inaceitável forçar quem quer que seja a aderir a seja lá o que for.



Lula da Silva parece não pensar antes de se expor ao ridículo com o que diz; acusou de covardes os que são contrários a essa iniciativa que, na melhor das hipóteses, parece ser, em si mesma, um ato de acovardados ante a perspectiva de futuras denúncias sobre seus conchavos e desconchavos. Nesse caso, contudo, podemos até compreender o destempero do ex-torneiro mecânico, porquanto o argumento governamental é indefensável; logo ele - que já não é bom de verbo - vai dizer o quê?



Muito embora, para nossa estupefação, o ministro Gilberto Gil venha à boca de cena, contrito e escusatório, com a expletiva prolixidade costumeira, tentar justificar a censura que o Soviete Supremo do Partido dos Trabalhadores nos deseja impor, jamais perderemos de vista as acepções semânticas de controlar, fiscalizar e disciplinar . O governo, sim, deve ser obrigado a fazer exatamente o que nós queremos; nunca, o contrário. O poder é nosso, e o político, um humilde vassalo, simplesmente, deve limitar-se a nos representar. Democracia que se preza é assim: a sociedade manda, e o poder público obedece. Foi com base nesse princípio sagrado que - pela expressa vontade dos norte-americanos - os Estados Unidos retiraram suas tropas do Vietnã e deixaram de vencer aquela guerra hedionda. O resto são chiliques irresponsáveis de quem sempre teve vocação para ser ditador de republiqueta.



Lula da Silva espalha, para quem quiser ouvir, ser um grande admirador do bandoleiro Fidel Castro, no poder, em Cuba, pela força, há mais de 40 anos, sem jamais ter sido eleito. Recentemente, numa de suas infelizes tiradas, nosso supremo mandatário disse que visitara o Gabão para aprender como um presidente fica tantos anos no poder e ainda se candidata à reeleição. Como se sabe, Omar Bongo é o ditador daquele país há 37 anos. Os comissários, extintores em punho, apressaram-se a garantir que se tratava de uma brincadeirinha presidencial. Pode ser; mas Lula da Silva vem abusando do sarcasmo e da chalaça para retransmitir alguns recados dos ideólogos do partido. Por enquanto, a estratégia tem sido gramcista e se manifesta na aparentemente inofensiva proposta de reeleição, apresentada pelo primeiro-ministro José Dirceu.