Não era uma gripe assim, dessa de espirros constantes, dorzinha-de-cabeça, zunido no ouvido. Não!
Era algo como barulho de festa funk, carro-de-som anunciando candidato à prefeitura, arrastão na Praia do Flamengo ao meio-dia, trânsito na Brasil em hora de pico, ou enchente de janeiro entupindo bueiros na Praça da Bandeira, provocando engarrafamento do Rio a Itaguaí.
Sim... Dá pra ter uma leve idéia do que é uma gripe persistente, dessas que não quer abandonar a carcaça, por gostar da hospedagem.
E dá-lhe analgésico, chá de agrião, limão, alho, sabugueiro, pitanga, romã, escalda-pés, cachaça, mel, poejo...
Lembro-me, em tempo de ginásio, de uma crônica, não sei se do Sabino ou Drummond, talvez de nenhum dos dois, que falava da metafísica do espirro: “como se fosse um choque de cometas em pleno espaço sideral”...
Eu diria que este surto de gripe mais parece um grito de saudação à PRIMAVERA que se aproxima para que o inverno se aqueça, deixando para trás a visão poética das orvalhadas que serenavam no meu jardim...