“A Ditadura do Proletariado é a dominação não restringida pela lei e baseada na força” – Lênin, em “O Estado e a Revolução”
Em julho de 1990 Fidel Castro e os mentores do Partido dos Trabalhadores convocaram quarenta e oito partidos de esquerda em todo mundo com o objetivo de debater, em São Paulo, a nova conjuntura internacional no pós-queda do Muro de Berlim. O encanecido ditador cubano, desarvorado com a desastrosa perda de US$ 6 bilhões repassados anualmente pela URSS ao pequeno “Paraíso do Caribe”, articulou a criação de um foro de caráter permanente para, segundo suas próprias palavras, “recriar na América Latina o que foi perdido na Rússia e no Leste Europeu”.
Fidel classificou a derrocada do comunismo soviético como um “triste acontecimento” e, ágil, materializou e pôs em funcionamento uma poderosa (e milionária) entidade de agitação e propaganda comunista na América Latina, de caráter supranacional, para tramar abertamente o enterro da “economia de mercado” e do que considera, no seu jargão totalitário, como “democracia burguesa”. Na parolagem de Fidel (e do PT) fremia, urgente, “a busca de um modelo alternativo de desenvolvimento social”, para trilhar “caminhos internacionalistas” ou, traduzido em linguagem clara, modelar e exportar um “novo” tipo de socialismo a ser criado no Brasil pela ação do companheiro Lula e seguidores, reconhecido intramuros pela sigla de “Cubraela” (associação de Cuba, Brasil e Venezuela), sob a inspiração do comandante Fidel e a co-liderança bolivariana do coronel venezuelano Hugo Chávez.
Fidel acertou na mosca e, com isso, ganhou sobrevida. Já em setembro de 2001, no 10º Encontro do Foro de São Paulo, realizado em Havana, o ditador cubano, em sua Declaração Final, recomenda a imediata “construção de alternativas” para se implantar, na América Latina, “um governo nacional, popular, democrático e antiimperialista”. Na agenda de Fidel, é primordial a tarefa de se estabelecer em escala continental uma “democracia participativa”, capaz de promover “a construção da cidadania”. Para tanto, deve-se promover em primeiro lugar “todas as formas de propriedade social existentes em nossa região”, tais como, por exemplo, cooperativas estatais, comunitárias, áreas de propriedade de trabalhadores”, tipo MST e organizações violentas similares.
Mais ainda: indignado com as restrições impostas pelos Estados Unidos no que diz respeito a remessa de dólares dos exilados cubanos (mais de 1 milhão e meio) na Flórida, que ultrapassou nos anos 90 a casa dos US$ 50 bilhões anuais, Fidel reverbera, como política externa alternativa do novo socialismo, o total repúdio ao projeto imperialista e geoestratégico da ALCA – o acordo de livre comércio para a América Latina, proposto pelos EUA –, enfatizando, em contraposição, a necessidade de se motivar uma “convergência” natural para “o desenvolvimento e a potencialização dos processos de integração reais da América Latina”, que transcendam “os aspectos meramente comerciais e a lógica neoliberal”.
Para tanto, reza na cartilha totalitária do foro de Fidel e do PT do companheiro Lula, que é fundamental instituir-se “um projeto de integração com forte participação do Estado e o controle do mundo do trabalho, que permita projetos comuns que apontem a novas formas de produção e propriedade”. Cego para a própria realidade cubana, em que se aprofunda a pobreza da ilha caribenha pela completa estatização dos meios de produção, crédito e comércio, Fidel, na sua obsessão antiamericana, quer levar para toda América Latina os parâmetros da pior e mais pura africanização.
E é justamente por isso que seus agentes e seguidores, para fiscalizar a “imprensa burguesa”, advertem de forma objetiva em documento de Seminário Paralelo de Comunicação do Foro de São Paulo ocorrido em Porto Alegre, de julho de 1997, que “a questão da comunicação e da telecomunicação tem um sentido estratégico (para se chegar ao socialismo) no enfrentamento ao neoliberalismo” e recomendam, decisivos, a “urgente constituição de um controle público, não necessariamente estatal, sobre os meios de comunicação e telecomunicação”.
Para os integrantes do Foro de São Paulo, o controle dos meios de comunicação “é tarefa dos partidos de esquerda”, que devem “reorganizar os sistemas de comunicação no sentido contrário da concentração monopolista”, realçando, como prioritário, a necessidade “de um envolvimento direto dos partidos na luta pelo controle público destas áreas” – tudo, afinal, objetivando a estratégica “organização dos setores de comunicação de esquerda que envolvam de forma integrada os países da América Latina e Caribe”.
É preciso dizer de onde saiu a idéia, sete anos mais tarde, do Conselho Federal de Jornalismo e da Ancinav? É, sim, e voltaremos ao assunto no próximo artigo.
DIEGO CASAGRANDE