Artigo de Lya Luft publicado na edição da revista “Veja” de 28 de julho de 2004, com o título de “Falta alegria em nossas vidas”, trata da tristeza que está envolvendo a nossa sociedade.
Segundo aquela escritora, hoje vivemos preocupados com os impostos, o custo de vida, o desemprego, a violência, a prolongada adolescência dos filhos, a falsidade de alguém em quem confiávamos, a velhice complicada dos pais, a pouca autoridade das autoridades, a nossa própria indecisão e as rápidas mudanças na sociedade, em que alguns tentam impor a anarquia, quando deviam renovar e não bagunçar.
A articulista notou em reunião com amigos, contudo, que todos que com ela estavam eram pessoas divertidas, amorosas e humanas. Nenhum dos presentes era malfeitor, um ser humano desprezível, mas, ao contrário, tentavam superar os próprios limites.
E concluiu, lembrando Érico Veríssimo, que precisamos é de mais humor, de um riso bom ou um sorriso terno em meio de tudo de ruim que está acontecendo ao nosso redor, o que poderia nos confortar e devolver a esperança.
A leitura do artigo veio ao encontro da posição que venho defendendo nos últimos anos de que, no lugar de nos entregarmos à depressão, ao pessimismo, ao desespero e ao medo, deveríamos estar atentos para as coisas boas que estão acontecendo à nossa volta.
Há pouco tempo, um parente disse-me desolado que os jornais e revistas só divulgavam notícias ruins. E finalizava afirmando que não podia ser diferente, pois nada de bom acontecia.
Contestei sua afirmação e resolvi mostrar-lhe que as mesmas publicações citadas continham boas novas não notadas pelos pessimistas. E eu mesmo fiquei surpreso com o resultado de minha releitura ao verificar que muitos fatos promissores estavam ali à nossa frente, sem merecerem a mesma atenção que as tragédias, crueldades, corrupção, desagregação familiar, criminalidade, acusações, etc.
Passei mesmo a redigir artigos com os fatos alvissareiros divulgados por uma revista semanal, mostrando assim, principalmente àquele familiar, que nem tudo estava perdido.
Pus-me, então, a analisar, como Lya Luft, as pessoas com que tenho lidado nos últimos anos, chegando à feliz conclusão de que tenho convivido com gente boa, de caráter, responsável, produtiva e possuidora de comportamento ético.
Isso tem ocorrido com os membros de minha família, principalmente com minha mãe, minha esposa, meus filhos e irmãos, com quem me encontro amiúde.
E no trabalho? Nos dezesseis anos em que trabalhei na Secretaria do Tesouro Nacional, por exemplo, encontrei, ao vasculhar a memória, apenas um funcionário de conduta duvidosa, que não merecia a minha confiança. Os demais eram corretos e procuravam prestar um bom serviço à sociedade que pagava seus honorários.
Na COREF, coordenação-geral que se encontrou sob minha responsabilidade durante muitos anos, só encontrei servidores sérios, preocupados com a defesa dos contribuintes, de forma competente e sem o abandono dos preceitos éticos, com vistas à utilização dos recursos públicos adequadamente, ou seja, na melhora da vida dos brasileiros.
Cheguei então a uma conclusão: o mundo é bem melhor do que parece e a vontade da grande maioria de mudar a situação o está tornando cada vez melhor. E o mal, escandalosamente divulgado, bem cedo estará relegado, se não ao desaparecimento, a um canto bem afastado de todos nós.