O comissário Luiz Gushiken, secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, conseguiu se tornar o mais desastrado ocupante da cadeira de grão-propagandista do governo. A extensão do estrago chegou ao seu apogeu na semana passada, quando o boletim eletrônico "Em Questão" divulgou uma entrevista falsa (repetindo, falsa) do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Não era uma entrevistinha qualquer, daquelas em que os maganos divulgam estatísticas irrelevantes. Era um destampatório. O ministro investia contra "o fascismo das grandes corporações da mídia". Gil não dissera o que o Planalto lhe atribuíra, e a Secom desculpou-se e demitiu a responsável pelo erro.
O comissariado anabolizara uma entrevista, injetando-lhe frases velhas, extraídas de contextos diferentes. O ministro não chamara as grandes corporações da mídia de fascistas, mas há gente na Secom que acha assim e gostaria de vê-lo dizendo isso.
A encrencas e parolagens do comissário podem ajudar a antever o que seria o modo petista de informar, segundo os çábios de plantão.
O governo de Lula ainda não completara seis meses quando a Secom produziu o primeiro episódio de dirigismo cultural. Um aviso da Eletrobrás condicionava os patrocínios da empresa a projetos com o zelo de "atuar em sintonia com a política governamental, em especial com o Programa Fome Zero". Dirigismo dá nisso, o Fome Zero sumiu, não sintoniza coisa alguma.
Em setembro de 2003, o comissariado da Secom produziu uma revista de nome "Brasil". Nela informou ao leitores que o Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, já tinha começado a trabalhar em defesa da patuléia. Falso. O Conselho só existia no papel. O governo não nomeara os seus integrantes. Eles só foram definidos em dezembro de 2003.
O comissário Gushiken gosta de pontificar sobre a imprensa e a alma humana. Ele diz, por exemplo, que "o ensinamento baha i aponta que "nem tudo o que um homem sabe pode ser revelado, nem tudo o que lhe é possível revelar deverá ser julgado oportuno, nem todo dizer oportuno pode ser considerado adaptável à capacidade dos que ouvem ".
Talvez ele ache que a patuléia não é capaz de entender a diferença entre um Conselho inexistente e um Conselho de verdade. Isso pode explicar o fato de a Secom ter se metido, em março passado, em outro caso de manipulação embusteira. Colocou no ar um filmete de propaganda produzido por Duda Mendonça onde se mostrava uma paisagem do vigor da agricultura familiar financiada pelo governo. Tudo falso. A fazenda mostrada era parte de um empreendimento agrícola de 1 milhão de metros quadrados. Os trabalhadores eram empregados do fazendeiro e nada tinham a ver com a agricultura familiar. O slogan dessa campanha era "o trabalho sério já começa a dar resultado".
Todas as lambanças em que Gushiken se meteu tiveram um desfecho comum: empulhavam a choldra. Convivendo com profissionais dessa qualidade, Lula está mais do que certo ao defender a criação de um Conselho para defender a qualidade do jornalismo de Pindorama.