No principio, quando começaram a descer das arvores, para os hominídeos tudo o que havia era a ignorância e o medo por ela provocado, tudo o que existia no planeta se apresentava desconhecido e assustador ; à noite, os ventos, os raios, os trovões, as mudanças climáticas, os terremotos provocados pelas acomodações das novas placas tectônicas, os vulcões em erupção, a lava escorrendo e destruindo tudo em sua passagem, os eclipses em pleno dia, as fases da lua principalmente a cheia e as noites sem ela, os maremotos que seguiram a fragmentação de Pangea e a consolidação dos continentes, as doenças, os animais predadores, a sensação de inadequação ao novo meio que constantemente mudava e cada vez ficava mais inóspito e cruel, o frio, a fome, a sede, a dor,o nascimento, a morte, a dieta composta de tentativas e descobertas, o advento do fogo, a formação dos clãs, as lutas, as lideranças dominadoras e suas ações para perpetuarem-se em controle, os questionamentos, as duvidas sem respostas e as drogas.
As tentativas e as descobertas eram diárias e com elas vinham os erros e suas conseqüências, a total falta de higiene associada a grande dificuldade para a geração de alimentos, faziam com que nada fosse desperdiçado e mesmo os alimentos estragados, os mofados e as experiências com plantas e vegetais recém descobertas fizessem parte obrigatória da dieta destes primeiros seres humanos.
O medo como disse, provocado pelo desconhecimento, associado a esta dieta que certamente incluía plantas como a Salvia, a Datura, os Peiotes , as Papoulas, as Psilópsis(cogumelos) as várias Canabis, a Coca e inúmeras outras plantas e flores de características psicotrópicas e alteradoras de realidade, certamente contribuíram para que o temor transformasse a visão do homem e fizessem com que ele buscasse respostas na indução criada por estas combinações químicas, daí começaram a surgir os monstros e os demônios, que eram imediatamente associados aos fatos da natureza o que fazia com que certamente precisassem de heróis e ícones que os combatessem e os vencessem dando aos seres o conforto e a segurança que tanto necessitavam; as definições de certo e errado, começavam com a imposição de regras de convívio social porém o bem e o mal, não possuíam ainda uma forma subjetiva ou concreta e definitivamente se confundiam na mente destes precursores da humanidade, visto que a beleza das catástrofes naturais, misturava-se com seus efeitos mortais condenando os de então à as duvidas existenciais quanto a formação das definições e estruturações destes conceitos antagônicos e certamente criadores das divindades que se digladiavam naquelas mentes vazias, temerosas e cheias de vontades de encontrar respostas para o profundo pavor do desconhecido que rondava as suas existências.
Daí para a formação de uma casta que ao usar com um controle supostamente maior a farmacopéia natural do período assumissem o papel de distribuidores dos conceitos, interlocutores e representantes dos seres que certamente se formavam no inconsciente coletivo das então tribos que habitavam o jovem planeta, estes controles e as ameaças que com eles vinham traziam-lhes benesses e poder, os céticos ( sempre existiram) eram condenados aos sacrifícios que aplacavam a ira dos recém criados deuses e seus rivais os demônios, as existências ficavam mais toleráveis, se houvesse a certeza de que forças superiores eram capazes de protegê-los do que não compreendiam; enquanto uns temiam e se acovardavam, outros tentavam compreender e dominar este medo, haviam também aqueles que descobriram que poderiam lucrar e viver muito melhor se tivessem o controle inquestionável sobre a maioria covarde e intelectualmente mais limitada do que os outros dois grupos de seres, surgindo a partir daí os conceitos que deram origem as crenças, as religiões,os deuses e seus contrapartes os demônios e aqueles que com seu cepticismo, geraram as ciências, o agnosticismo, o ateísmo e a própria evolução da espécie.
O tempo se passou em milhares de anos e neste quesito nada mudou, pois ainda impulsionados pela ausência de respostas cientificas para as perguntas e os medos que ainda se acumulavam, os que dominavam aos ignorantes faziam-se cada vez mais presentes e cada vez mais incutiam na plebe ignara as ameaças das punições mais terríveis e cruéis aos rebeldes que desafiassem seus controles e as maravilhas da outra vida para os que pagassem e se acomodassem ordeira e ovinamente, utilizando para a consolidação deste controle, as mesmas plantas psicotrópicas que os hominídeos descobriram acidentalmente; a partir da criação do pão, feito de centeio, as alucinações que evocavam divindades tornaram-se mais comuns e passaram a representar o universo de divindades e demônios com cores e sons mais presentes e cada vez mais próximos da realidade, tudo isto graças ao mofo do centeio que no século XIX foi isolado pelo químico alemão August Hofman dando nome ao composto conhecido como LSD (Acido Lisérgico).
Figuras mitológicas como Teseu, Jasão e Hercules, bíblicas como Adão, Eva, Moises, Noé, Abraão e Matusalém, lendárias como Merlin, Artur,o Saci, o Curupira,o Holandês Voador , Peter Pan, Alice e mesmo algumas históricas como Jesus, Buda, Lao Tseu, Confúcio, Joana Dárc, dentre tantos outros, foram criados por ou foram eles mesmos usuários conscientes ou não desta e de tantas outras substâncias alucinógenas que moldaram e forjaram suas presenças no cenário das crendices e das religiões que assolam a espécie desde os tempos imemoriais.
Em resumo, os deuses e os demônios de ontem, o deus único(com todos os seus nomes segundo as inúmeras crenças monoteístas) e seu contendor (também com todos os nomes pelo qual é conhecido) não são criadores de nada, nem dos céus ou dos infernos; são criaturas que existem a partir da soma de três fatores fundamentais: a ignorância, o medo e as drogas, que quando somados tiveram seu resultado manipulado por aproveitadores sem escrúpulos, que fizeram com os que com eles e as gerações que seguiram os passos dos primeiros seres a se porem eretos, prostrassem-se indefesos e crédulos a existência do imponderável, do inatingível, do oculto e do místico, levando os incautos a professar crença no que não viam e temor pelo futuro obscuro e inexistente que lhes era imposto pelos traficantes de fé de então e seus pares de hoje que prosseguem em sua missão de difundir o temor entre os ignorantes e os fracos, fato este que obviamente confundem-nos com os traficantes de drogas que negociam as substâncias entorpecentes nos dias atuais.
