Durante a campanha e até a presente data, a Justiça Eleitoral vem fazendo uma campanha no Rádio e na Televisão no intuito de esclarecer ao eleitor o valor do voto e mostrar a transparência das eleições de hoje. Entre as inserções, aconselha-nos a olhar no site do STF a prestação de contas em andamento dos candidatos.
Na eleição de 2002, escrevi “Quero ver...quero saber...”, crônica a respeito do derrame de dinheiro que seria gasto nas eleições. Na ocasião observei alguns patrimônios declarados por candidatos a governador, deputado federal, e presidente. Alguns declararam um patrimônio tão ínfimo, que fiquei com pena de tanta pobreza. Nas campanhas, no entanto, observei a quantidade de “amigos” que fizeram doações de deixar a Unicef lambendo os beiços. Mesmo assim comecei a calcular o que via na rua e nos meios de comunicação de alguns candidatos. A olho nu podia se ver que pelo menos o dobro do que foi declarado havia sido gasto. Algumas prestações de contas causam arrepio de tanta mentira e falsidade. Milhões foram gastos e não declarados, mas mesmo assim as ditas “prestação de contas” foram “aprovadas”.
Desta vez, procurei acompanhar a prestação de contas no correr da campanha, já que o TSE fazia e faz propaganda delas. Corri todos estados do Brasil no site do TSE. Dos 5.562 municípios e 377.851 candidatos, até a presente data, prestaram contas:
1 candidato a vereador na cidade Prado na Bahia
1 candidato a prefeito em Tobias Barreto em Sergipe
1 candidato a Prefeito em Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo
1 candidato a vereador em São Paulo
1 candidato a prefeito em Santos.
A estatística acima mostra o grau de seriedade que os políticos deste país levam às leis e normas eleitorais. Apenas 0,00132%, teve a preocupação de mostrar ao eleitor quanto gastou em sua campanha. A estatística também mostra que o dinheiro do contribuinte gasto pela Justiça Eleitoral com a propaganda, foi jogado no mato, e o que valeu mesmo foi o dinheiro; o amigo do meu pai; vai me arranjar um emprego; recebi cem camisas; fez cinco enterros; patrocinou a festa da escola de samba; deu uma festa de arromba todo sábado; pagou bebida para turma toda; pagou meu aluguel atrasado; vai financiar a festa de formatura; distribuiu bujão de gás; etc, etc, etc. Segundo a propaganda, foi gasto uma média de R$ 6,20 por eleitor num total de 121 milhões de eleitores, ou seja: R$ 750.200.000,00.
Na campanha pela televisão, aparece um avião trazendo urnas eletrônicas para uma tribo do Alto Xingu. Índios seminus na recepção e a taba como pano de fundo. Índios da reserva votam? Votam em quem? Será que é no vereador e prefeito da cidade mais próxima? E se votam, o que é que esses caras vão fazer por eles? Como sabemos, a FUNAI é o órgão do governo federal responsável pela preservação dos costumes indígenas e nada tem a ver com prefeituras. Por sua vez as prefeituras nada podem fazer pelos índios por não ser da sua competência, e se fosse não teriam dinheiro para investir nas reservas. Índio paga imposto? IPTU ? ISS ?
Pensava que a mentira, promessas, ilusões e o esbanjamento de dinheiro dos contribuintes, fosse privilégio dos políticos, agora vejo que o judiciário também participa da hipocrisia democrática.