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Artigos-->GOVERNO LULA: DIREITA, VOLVER! -- 23/11/2004 - 00:12 (ƒ.; ®.; ane©.; o) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GOVERNO LULA: DIREITA, VOLVER!



Paulo G. M. de Moura, cientista político



As manchetes denunciam: “Amigos de Lula e velhos esquerdistas abandonam o governo Lula”.



Quando um ou outro indivíduo sai de um governo, isto pode ser apenas um fato pontual. Quando muitos indivíduos simultaneamente abandonam um governo, isto é um fato político. E, quando todos os que saem possuem uma característica em comum, esse fato tem um significado que instiga interpretação.



E qual a característica comum entre todas as saídas do governo Lula que o país assiste nos últimos dias? A debandada geral caracteriza-se pela remoção de uma parte do entulho esquerdista que o presidente eleito levou para dentro do governo, seja por razões pessoais, seja para maquiar, perante suas bases eleitorais, o verdadeiro caráter de seu governo.



Ou seja, Lula - que para chegar ao poder executou um “giro à direita”, jogando na lata de lixo as bandeiras e o discurso histórico do PT - sai da primeira eleição que seu partido enfrenta após 2002 derrotado, e responde aos fatos executando um segundo giro à direita.



O impacto desse acontecimento chama a atenção, pois ele ocorre às vésperas da reunião da direção nacional do partido, na qual a ala à esquerda da legenda executa manobra ofensiva no sentido de cobrar da cúpula partidária e governista que fizessem exatamente o contrário. Isto é, para que operassem uma reforma ministerial e uma mudança na política de alianças e diretrizes do governo em direção às bandeiras históricas do partido.



Na avaliação da esquerda petista, a derrota eleitoral de 2004 é conseqüência do giro à direita patrocinado por Lula. Em declarações recentes à imprensa, lideranças da esquerda do PT têm feito afirmações nesse sentido. David Stival, presidente estadual do PT gaúcho, por exemplo, anda dizendo que “acendeu a luz amarela e ela não pode ir para o vermelho”. Para o dirigente gaúcho, “ou a cúpula representada pelos 54 dos 83 integrantes do diretório - que têm dado as cartas nos últimos dois anos - admite que é hora de enfrentar o governo, ou o PT se restringirá a partido sem programa que, para reeleger Lula, dependerá exclusivamente de alianças eleitorais”. Stival alega que nas eleições deste ano o PT perdeu importantes aliados, como o funcionalismo, a classe média e os movimentos sindicais e populares, e que embora tendo obtido “vitórias importantes em algumas regiões, é fundamental perceber que o PSDB teve crescimento eleitoral qualitativo e quantitativo e que muitos aliados migraram”. Stival defende a idéia que o governo deveria introduzir mudanças graduais na política de aproximação com o empresariado, pois, segundo ele, “Esse grupo foi o que mais lucrou com as ações do governo e não obtivemos dele nenhum resultado”.



David Stival não é o primeiro dirigente petista a dar declarações reclamando da falta de contrapartida eleitoral por parte do empresariado, a quem o Palácio do Planalto estaria se desdobrando para agradar, mas que, nos principais estados onde o PT sofreu grandes derrotas, apoiou com a oposição.



Pelo que se pode depreender dos fatos, portanto, ao assim agir, o presidente Lula estaria mandando dois claros recados: um ao seu partido e outro à sociedade.



Para seu partido, Lula avisa que, ao começar a reformar o governo sem esperar a tradicional rodada de avaliações e debates internos que o PT costuma fazer em situações como essa, e, mais do que isto, ao botar esquerdistas para fora do governo, recrudescendo na condução conservadora da política econômica e nas alianças políticas à direita nesse momento (elevação da taxa de juros, anúncio da privatização de rodovias, ampliação da presença de partidos de centro e centro-direita no ministério em detrimento de espaços de petistas), Lula demonstra claramente que não está disposto a submeter seu governo ao controle partidário, muito menos, à influência da esquerda petista.



Para a sociedade (leia-se: empresariado nacional e investidores internacionais), Lula parece querer avisar que, se o que fez até agora em termos de política econômica e alianças políticas, apesar de agradar, ainda não foi suficiente para conquistar a confiança do Kapital, não seja por isso: faça-se mais.



O sentido de uma segunda guinada à direta no meio do mandato, e depois de uma fragorosa derrota eleitoral como essa que o PT acaba de sofrer no segundo turno, nas capitais e grandes cidades do pólo moderno e modernizador da economia nacional, parece ser o de mostrar para o grande empresariado e os investidores internacionais que a cúpula petista pode ser mais tucana que os tucanos, se o que é necessário para o Kapital abençoar a reeleição de Lula é isso.



Ou seja, se nossa análise está correta, o que as cúpulas partidária e palaciana petistas estão tentando fazer é posicionar-se politicamente de modo a ocupar o espaço que o PSDB ocupa no espectro ideológico e programático da política brasileira, como quem diz: “se o que vocês querem para apoiar a reeleição de Lula é que façamos aquilo que o PSDB faria se estivesse no governo, vocês não precisam eleger um tucano em 2006 - nós mesmos fazemos o serviço”.



O movimento faz algum sentido. Afinal, há muito tempo a direção petista reconhece no PSDB seu grande adversário para 2006. Não é de graça que lideranças do PT e do governo Lula disparam críticas contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, partido que tem a maior quadra de presidenciáveis a oferecer ao eleitor brasileiro na próxima eleição. No mínimo, mesmo que dentre esse nomes somente um será o escolhido, os tucanos têm Geraldo Alckmin (que deve ser o ungido), Aécio Neves, Tasso Jereissati, José Serra, e o próprio FHC como alternativas viáveis para as eleições presidenciais de 2006. E, para pesadelo dos petistas, as urnas de 2004 indicam que o eleitor está percebendo isso; está comparando o governo Lula com os governos do ex-presidente FHC, e, pelo menos no pólo dinâmico da economia nacional, está, como disse David Stival, “migrando”.



Cá entre nós, desconfio que a turma do Lula precisará muito mais do que isso para conquistar a confiança do Kapital.



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