Usina de Letras
Usina de Letras
25 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63236 )
Cartas ( 21349)
Contos (13302)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10683)
Erótico (13592)
Frases (51761)
Humor (20179)
Infantil (5602)
Infanto Juvenil (4949)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141311)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6356)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Vida severina -- 08/12/2004 - 13:02 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A vereda do sertão – vida Severina

( o Arraial de Belo Monte )*



Hay que se aproxima una lucha de los excluidos

de siempre y los privilegiados de ahora. Hay que

hombres, mujeres y trabajadores quienes la revolución!



Hugo Chávez , diciembre de 2002, Caracas.





Analisar os processos que compreendem o conflito de Canudos na Bahia, repercutem acima de tudo, a situação política e social em que se encontrava o Brasil pós-império. Ainda atrelado a um modelo agrário, colonial, semi-escravocrata e latifundiário ( com predominância da monocultura agrícola ), as condições da República Velha apenas tornaram “melhor” politicamente uma instituição que conservou monarquistas e militares no poder. Em 1889, coube a uma ala progressista da nação e das elites no país, articular o fim do Império Lusitano no Brasil.

A estrutura do Brasil agrário e colonialista não mudara para efeito geral. A indiferença classista dos grandes proprietários de terras conservou muito bem o paternalismo da classe urbana média, que se beneficiava dos privilégios concedidos pelas condições internas do sistema. Durante esse período de transição monolítica – início de 1900 até a década de 1930 – , o Brasil compilou a administração pública ( poder legislativo, executivo e judiciário ) às possibilidades de uma sociedade viciosa e corrupta. A industrialização tardia do país, onde as condições de vida estagnaram a miséria mantida à base do latifúndio, fizeram desta região brasileira motivos de imensa alienação e exclusão social, dando origem ao “messianismo”. Esse texto que têm como base de estudo o livro “História do Brasil Contemporâneo”, de José Roberto López, também faz considerações sobre o personalismo do autor frente ao tema. Há quem discuta a casualidade intervencionista de Antonio Conselheiro ( Antonio Mendes da Silva Maciel ) como um fenômeno de caráter puramente natural, devido à miserabilidade de do sertão baiano. Mas as características que traçam a história de Canudos, lembra um movimento político ligado a uma forte raiz ideológica por parte de Conselheiro. É óbvio que a grande massa de Monte Santo sentia a dor no estômago intuir à fuga do latifúndio. Por outro lado, o ex-comerciante e beato fervoroso deu início a uma crise econômica no sistema fundiário da região. A queda na produção agrícola e bovina ( pecuária ) começou a estagnar-se com a migração dos trabalhadores servis ou semi-assalariados ao abandono e manuseio dessas terras.



Outro fator bastante perceptível foi o discurso religioso empregado por Antonio Conselheiro e sua conduta enquanto pregador visionário. A estrutura oligárquica sertaneja fez vista grossa a seu “rebanho” de fiéis, mas coube a Igreja Católica sentir-se ameaçada com a figura e notoriedade social de Conselheiro e consequentemente um posicionamento mais rígido partindo dos clérigos. O próprio Padre Cícero ( ligado ao coronelismo e ao cangaço, ávido por novas terras ), contemporâneo de Conselheiro, tratou de criar as condições políticas que colocariam a República Velha, tradicional e oligárquica contra miseráveis humanos desprovidos de qualquer entendimento acerca de sua existência num Brasil semi-colonial. Por outro lado, a República dos Imperadores do café viu-se ameaçada por um levante de massas que, caso não fosse destruído, acarretaria os rumos orgânicos da sociedade camponesa no nordeste. No final da década de 1890, quando os conselheiristas configuravam uma nova ordem social, o exército foi designado a destruir qualquer possibilidade revolucionária camponesa no sertão. Foram necessárias quatro expedições militares para destruir Canudos em 1898.



É importante lembrar o viés que a frágil situação política deu a capital federal na época ( Rio de Janeiro ). A imprensa na época associou o movimento de Canudos à Monarquia, numa clara guerra de interesses entre monarquistas conservadores e republicanos liberais moderados ( alguns favoráveis ao retorno do Império ), embora essa ideologia fosse disputa das elites tradicionais que dispunham do aparelho do Estado. A guerra de Canudos representa a tentativa de superar um país mergulhado na pobreza e na conservação do latifúndio monocultor e a força reacionária das elites urbanas e rurais, onde as possibilidades de liberdade e inclusão social foram vistas por Conselheiro através de sua militância e peregrinação.



A obra “Os sertões”, de Euclides da Cunha, foi a primeira descrição jornalística e literária oficial sobre a Guerra de Canudos. Depois de seu trabalho, vários autores no Brasil e no mundo já discorreram sobre o tema. Apesar de ser uma obra positivista na sua concepção e fundamentação, é consideravelmente um documento historiográfico e geo-físico importante.





Paulo Milhomens

Artista e estudante de História na UFT



* Parte de um texto desenvolvido para estudos na disciplina de História do Brasil III, ministrado pela professora Juciene Ricarte Apolinário, doutoranda em História Social pela Universidade de Lisboa.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui