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Artigos-->COITADINHO DO PRESIDENTE -- 11/12/2004 - 19:07 (ƒ.; ®.; ane©.; o) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COITADINHO DO PRESIDENTE



por MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA




Se o Partido dos Trabalhadores pode se gabar de possuir competência, esse atributo reside em sua capacidade de fazer oposição pronta, estridente, inquisitorial, stalinista, implacável. Foram anos de treinamento e os petistas aprenderam, primeiro, a desqualificar seus oponentes profissionalmente, depois, moralmente e, em alguns casos, levar às barras dos tribunais os que não rezavam por sua cartilha. No Congresso, o PT foi campeão de CPIs e nunca lhe faltou o ímpeto das acusações sem provas. Em compensação, petistas jamais admitiram ser criticados mesmo que de leve.



Nas portas das fábricas o líder sindical de barba desgrenhada experimentou o gosto de ser oposição, que é fácil e prazerosa. Ele se opôs com veemência ao governo militar e seus discursos inflamados foram o trampolim para a política partidária. Aos poucos se despiu do macacão, depois da calça jeans e da camiseta de sindicalista e começou a vestir ternos. O político Lula tornou-se freqüentador de altas rodas, enquanto, simultaneamente, seu partido se distanciava do proletariado e se convertia no "PT chapa branca".



Luiz Inácio, chamado de Lula, apelido foi incorporado ao seu nome, tornou-se o ídolo do funcionalismo público, dos intelectuais, dos profissionais liberais, dos artistas, dos clérigos de esquerda, dos estudantes, enfim, da classe média porque esta é a classe que mais se entrega a sonhos utópicos, tem crises existências e uma certa má consciência cristã que a impele para as panacéias caritativas com relação aos pobres e oprimidos.



Já bem longe das lides de torneiro mecânico, o político Lula continuou a se opor, pois nada mais agradável aos ouvidos do povo do que alguém que grite em seu nome contra governos jamais satisfatórios. Assim, ao longo do tempo, ele soltou o verbo sem dó nem piedade contra os "300 picaretas do Congresso", fustigou Roberto Marinho e a Rede Globo, abateu-se contra políticos que não eram do seu partido, zurziu a valer adversários de campanha presidencial, especialmente os que cometeram o crime de lesa majestade de ganhar do representante dos coitadinhos do Brasil. Enfim, todos que não fossem companheiros eram açoitados pela tosca e implacável oratória do homem que, ao mesmo tempo, era uma bandeira, o salvador da pátria, o hipotético líder de esquerda. Nebulosa esquerda confundida pela maioria com antiamericanismo, esse sentimento oriundo da nossa dor de cotovelo por não termos conseguido ser os Estados Unidos.



Noções de marxismos sempre foram propriedades de mestres e doutores a repetir em suas teses frases do profeta alemão das quimeras impossíveis. Luiz Inácio era o companheirão sem o lustro das letras e, por isso mesmo, figura emblemática dos miseráveis. E esse mito foi sendo construído na cabeça dos burgueses cultores na prática do capitalismo, mas zelosos de sua ideologia esquerdista ou mesmo de seus teóricos ímpetos revolucionários.



Finalmente o PT conseguiu pôr Lula lá. Um processo longo em que funcionou a arte da oposição em todas as suas nuances, da mais pura maledicência às denúncias sem provas. Funcionou também a propaganda bem elaborada onde o mito do coitadinho assumiu contornos de dogma. Nesse sentido, a competência que alguns poucos eleitores aspiravam poder encontrar no futuro supremo mandatário da nação foi habilmente traduzida por preconceito. Era a elite maldosa que não podia suportar o pobre do semi-analfabeto governando o país. Assim, ter medo e não esperança foi interpretado como pecado mortal, coisa politicamente incorreta ao extremo, inaceitável pelos bons e justos.



Dois anos se passaram. O PT no poder tornou-se elite, associou-se às oligarquias e converteu-se numa delas. Mas, o presidente da República, de terno Armani, continua sendo o coitado, o perseguido, vítima de um complô para inviabilizar seu governo.



Chega a ser divertido ver como sua excelência, acostumado a fazer oposição, seja ela ao Judiciário da "caixa preta" ou ao "bando de sem-pólvora do Exército", reage quando o ex-presidente Fernando Henrique, com sua costumeira diplomacia de rendas, tece alguma observação sobre o governo do PT. O último comentário de FHC, aliás, já feito por tantos, foi sobre a proverbial incompetência administrativa do PT, e isso provocou no reino convulsões verbais, terremotos emocionais, tufões de indignação. Sinal de que o PSDB poderá de fato ser o grande adversário de Luiz Inácio em 2006. Entretanto, até 2006, sua excelência e o PT deviam se preocupar mais com suas próprias hostes. O MST, a CUT, a Contag, os sem-teto, parte dos parlamentares petistas, rebeldes expulsos da agremiação já fazem oposição feroz, na qual foram treinados, contra o governo. Já ecoa o "fora Lula", lembrando que o PT é autofágico e costuma destruir seus eleitos. Nesse sentido é que se pode dizer: coitadinho do presidente.

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