O Mangue-bit mostrou aos brasileiros uma mistura revolucionária entre o rock e o maracatu. Alceu Valença já havia feito isso em seu tempo, e sua juventude. Naquela época o rock nem era tão pesado assim, de modo que a revolução proposta por Chico Science e a Nação Zumbi, nada foi do que repetir uma mistura mal sucedida, digamos que em termos de cobertura na mídia. Lembro-me bem do primeiro dia em que vi Chico Science e sua patota no fantástico, apresentando o clipe dA cidade não pára, a cidade só cresce, o de cima desce e o debaixo sobe... Bem antes dessa suposta revolução, o pessoal do Mundo Livre S/A já vinha politizando os meios musicais e enchendo-os de discursos contra a globalização e a contra-informação, leia-se alienação.
Durante todo seu período de existência, e também de coexistência ao lado de seus conterrâneos de movimento. O Mundo Livre S/A combinou informação com musica e grooves da melhor qualidade. No primeiro álbum da banda intitulado: Samba Esquema Noise, Fred 04 encheu de alegria as cabeças pensantes e os intelectuais da Ilha Grande, com Homero, o Junkie. Sua segunda incursão no meio da comunicação ao ouvinte, aconteceu no segundo álbum: Guentando a ôia - Foi uma re-lembrança sobre o ex-Ministro Rubens Ricupero, que havia sido exonerado devido sua mal fadada entrevista ao jornalista Carlos Monforte: Militando na contra-informação. O terceiro álbum: Carnaval na obra; trouxe uma peça pouco inspirada, que refletia sobre o papel da imprensa livre na hora da denúncia... Nada demais.
Seu quarto e último álbum: Por pouco; trouxe uma bem humorada queixa ao vergonhoso muro americano em Tijuana, além de um relato visionário sobre a posição de super-homens do presidente americano na intervenção em Kosovo. Também trouxe-nos uma farsa burlesca e futurista sobre a sociedade de consumo em ordem ao grande Deus Nike. De fato; se a vida não imita a arte, a arte com certeza imita a vida, e em alguns casos, o artista vê-se numa posição privilegiada de ter sido o precursor em determinado assunto. Em muitas vezes isso acontece na forma de uma grande coincidência, como no caso de Fred 04 em Super-Homem Plus, Batedores (resistindo ao arrastão global), e Lourinha Americana, essa última de autoria de Mestre Laurentino, mas com uma alegoria em torno do muro americano na fronteira com a cidade mexicana de Tijuana. Nas outras duas peças musicais, o Mundo Livre S/A discursa contra a norte-americanização em todos os sentidos, e contra o poderio americano contra seus pequenos inimigos, sejam mexicanos, sérvios, comunistas, ou muçulmanos.
O que os próprios músicos do Mundo Livre S/A e Fred 04 não percebem, é que incrustado em suas letras, músicas e posturas, estão incrustadas essa norte-americanização. Principiando no nome designado ao movimento musical: Mangue-bit, seguindo por algumas expressões usadas no cotidiano musical: free world S/A band, dubs, interludes, towns, grooves, versions, smart drugs, overdrives... Sem contar no próprio nome da banda que supostamente encabeçou o movimento. Mas que isso não importa nem um pouco, já que é impossível resistir aos vícios de uma sociedade altamente consumista, que basta quitar a última parcela da nova TV, para adquirir um refrigerador, ou um vide-cassete de Mil cabeças, um super DVD, um microondas a laser, ou um computador de alta geração.
Pois, é nessa onda de premonições artísticas, que vou antecipar, ou mesmo sugerir uma nova música ao Mundo Livre S/A, extraída da tragédia do dia 11 de setembro de 2001, quando as duas torres gêmeas do World Trade Center foram destruídas num atentado terrorista. Se no futuro, ficar provado minha ignorância na antiga arte de Nostradamus, desisto de vez, mas antes que tudo se acabe, gostaria de prever mais alguma coisa: