Como os colegas sabem, eu não creio em reencarnação, nem em ressurreição, nem em alma imortal a sobreviver ao corpo. Mas estudei a Bíblia e encontrei todas as três idéias nela. Todavia, a única que não podemos chamar de bíblica é a reencarnação. Porque o único texto que apresenta pessoas com idéia reencarnacionista não teve nenhum respaldo do mestre envolvido.
Um texto aqui publicado apresenta como defesa da reencarnação os três versículos bíblicos seguintes:
“ ‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus’...
‘E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas; Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o filho do homem. Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista’ - (Mateus 17.9-13)...
‘Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens’ - (I Corintios 15.19).
Racionalmente não há como negar a reencarnação. Se tivéssemos apenas uma oportunidade de vida terrena, a justiça de Deus seria incompreensível” (Dom Klesyus, “A reencarnação está na Bíblia”).
Esses textos, no entanto, nada dizem em apoio à teoria da reencarnação, senão vejamos:
Quando Jesus, em sua linguagem figurada, disse: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, Nicodemos perguntou se era “voltar ao ventre materno e nascer segunda vez”, que é o que pregam os reencarnacionistas. Jesus, porém, explicou que não era nenhum novo nascimento físico, mas uma renovação espiritual: “o que é nascido da carne” (nascer fisicamente) “é carne; o que é nascido do espírito” (uma nova mentalidade, novo caráter) “é espírito” (S. João, 3: 3 a 6). Imaginem se a condição para a salvação fosse a reencarnação. Não estaria à escolha do homem; pois ninguém escolhe se vai ou não reencarnar. Se assim fosse, Paulo, mensageiro do evangelho de Cristo, teria pregado para os cristãos morrerem e tornarem a nascer, ao invés de dizer: “quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e VOS RENOVEIS NO ESPíRITO DO VOSSO ENTENDIMENTO, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Efésios, 4: 22 a 24).
João Batista era “Elias, que estava para vir” (S. Mateus, 11: 13 e 14). Assim afirmam ser a reencarnação. Se reencarnação é um corpo com o espírito de outro que já morreu, João não podia ser reencarnação de Elias; pois Elias, segundo o texto bíblico, não morreu: foi tomado vivo e “subiu ao céu num redemoinho” (2 Reis, 2: 11). Para admitir sua reencarnação, teríamos que afirmar o inaceitável, que Elias, após subir vivo ao céu, sem passar pela morte na Terra, tenha morrido no céu, para se reencarnar em João. Roma, a cidade que dominava “sobre os reis da terra” (Apocalipse, 17: 18) nos dias apostólicos, era “Babilônia” (Apocalipse, 17: 5 e 18: 1 a 24). Não se tratava de nenhuma reencarnação, mas Roma tinha o espírito de Babilônia, assim como João tinha “o espírito de Elias”, isto é o caráter e o poder de Elias; “sua missão era converter os corações dos pais aos filhos”, como a missão de Elias; era um profeta como Elias (S. Lucas, 1: 17).
Quando Paulo disse: ‘Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens’ (I Corintios 15.19), ele estava com toda certeza referindo-se à ressurreição, em que ele acreditava. Se ele acreditasse em reencarnação, não teria dito: “...aos homens está determinado morrerem uma só vez, depois disto, o juízo” (Hebreus, 9: 27). Paulo, ao que indicam seus escritos, conhecia a teoria da reencarnação, que devia ser pregada por alguns religiosos contemporâneos seus, e quis expurgar das mentes do cristãos essa idéia, quando disse aquelas palavras aos hebreus. Se ele acreditasse na reencarnação ele teria dito que o homem morreria e renasceria muitas vezes. Mas, ao contrário disse que “...aos homens está determinado morrerem uma só vez, depois disto, o juízo”.
A única passagem em que aparecem pessoas demonstrando tal crença é esta:
“Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seu pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (João, 9: 2). Se os discípulos imaginaram a hipótese de ser o pecado do próprio cego a causa de ele nascer assim, eles acreditavam na idéia de o homem ter mais de uma vida; pois só assim ele poderia pecar e depois nascer cego como castigo.
A resposta do mestre, contudo, não confirmou a crença dos discípulos. Cristo, em todos os relatos dos evangelistas, só aparece falando de ressurreição dos mortos, e o maior arauto do cristianismo, Paulo de Tarso, negou definitivamente tal crença quando disse: “...aos homens está determinado morrerem uma só vez, depois disto, o juízo” (Hebreus, 9: 27).
A crença na ressurreição surgiu na Bíblia com o convívio dos hebreus com babilônios, medos e persas, não existindo entre os hebreus anteriores a Babilônia. Mas a reencarnação, como vimos acima não foi ensinada por nenhum mestre bíblico. Assim, a afirmação de que “Se tivéssemos apenas uma oportunidade de vida terrena, a justiça de Deus seria incompreensível” é apenas mais uma idéia das pessoas que ainda tentam defender a justiça de um deus à imagem dos hebreus, que consideravam justo vingar dos pais castigando os filhos.